COM “MEIO-FRANGO” NA U.T.I. QUEM SE SALVA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS?

16 de junho de 2020 - 13:43
Por João Darzone - Advogado

Quem acha que facebook, twitter, youtube, instagram ou whatsapp são as grandes plataformas de exposição midiática para políticos é porque jamais prestou atenção nos redutos eleitorais tradicionais da periferia. Lá reina absoluta a mais eficiente arma de aproximação com eleitores: o imbatível meio-frango.

Quem nunca comprou ou participou de um meio-frango? Escolas públicas e privadas, Igrejas, Associações de Bairro, Entidades Sociais, Partidos e até mesmo ações entre amigos tomaram o meio-frango prática social conhecida principalmente nos bairros e nas periferias das cidades tanto da capital quanto do interior.

Evidente que há variações da ferramenta: pão com salsichão churrasco, risoto, feijoada, galinhada, rifas, bingo, etc… mas, pelo sabor da ironia convenciono que o meio-frango é espécie e não gênero.

Forma de arrecadação muito barata de fundos comunitários pode ser considerado uma forma de financiamento coletivo sem fins lucrativos (se lucrativo óbvio, incide imposto), ao longo dos anos tornou possível a concretização de muitas obras sociais ou privadas.

Também, de forma muito discreta, tornou viável muitas carreiras políticas, que foram financiadas com a gestão eficiente do meio-frango.

É o grande coringa eleitoral podendo ser gratuito ou por um módico preço, o meio-frango, é ferramenta essencial na politica, traduzindo-se em marketing barato e eficiente, pois, em curto espaço de tempo concentra uma grande quantidade de pessoas comandadas rapidamente pelas capilarizadas redes de boca-a-boca deflagrada pelos simpatizantes militantes dos ditos caciques.

A vantagem estratégica de juntar uma considerável quantidade de pessoas de forma dirigida, organizada e muito rápida, o meio-frango guarda muita similaridade com as famosas SPEs (Sociedades de Propósito Específico) do direito empresarial.

Se o objetivo for arrecadar fundos os pequenos valores que giram em um meio-frango (imagine algo entre 100 ou 200 pessoas) ficam praticamente invisíveis aos olhos do leão, pois o dinheiro circula com notas de pequeno valor (5, 10, 20 reais).

Também, hipoteticamente, não levanta a lebre para Justiça Eleitoral no quesito doações. É indetectável aos controles estatais.

Imagine R$ 10 vezes 100, 200 ou 1000 pessoas em espaço de seis meses, repetidas duas vezes por mês, quantos reais podem ser arrecadados? Pense agora em meio-frango de R$ 50, R$ 100, pois, depende de com o bolso de quem quer participar.

É triste pensar, mas nestes tempos, em que nossa maturidade já construída pelos escândalos políticos cotidianos nos faz enxergar com maldade até mesmo os inocentes meio-frangos.

Mas a história está recheada de exemplos de que comida e aglomeração de pessoas dão votos.

Esse é o poder do meio-frango, que ao longo de décadas tem criado mitos da politica municipal, sendo ferramenta essencial da manutenção do poder dos caciques municipais que muitas vezes só comparecem com esse tipo de iniciativa de comunicação em suas bases no período eleitoral.

O capital político de muitos dos caciques municipais, está na sua capacidade juntar pessoas em torno do meio-frango, e canalizar em votos essa junção.

 Meio-frango é poder. Poder para quem não é capaz de articular ideias em determinados nichos sociais e quase nunca não tem projetos visíveis ou viáveis, ou simplesmente não é capaz ter ideias fora do discurso populista barato com o manjado rótulo da justiça social.

 Meio-frango é a única a arma dos políticos medíocres.

Mas o covid-d 19  abateu de forma implacável o meio-frango, pois, sem poder aglomerar pessoas, sua força inexiste, e está na U.T.I., e junto, lado a lado no mesmo quarto de U.T.I. já entubados com respiradores estão os vários mandatos 2020/2024 de caciques municipais, atingidos em cheio pelas regras de distanciamento social e as politicas de combates as aglomerações, todas pelo visto necessárias para combater a pandemia.

Sem a força anabolizada do meio-frango e a consequente entrada dos caciques municipais nos grupos de risco, as eleições em outubro podem deflagrar percentuais estratosféricos de óbitos de mandatos de caciques.

O risco de mortandade é tão violento que o Congresso considera que a ‘cloroquina’, para salvar os mandatos dos caciques é o adiamento das eleições, com o conveniente argumento de preservar a democracia e salvar vidas, com a esperança de que até lá o poderoso meio-frango consiga sair do terrível coma de U.T.I. preservando e salvando a tempo os caciques.

Mas mesmo que adiadas para dezembro, as eleições de 2020 poderão desenhar um novo panorama politico, pois ninguém mais ignora que a era das lives nas redes sociais, chegou para ficar, habitat este até então ignorado por muitos caciques municipais, mas agora estão correndo atrás do prejuízo.

E esse movimento está muito interessante, pois, de uma hora para outra pipocaram convites de amizade de políticos que jamais usaram as redes sociais.

Muitos deles até temos dificuldades de identificar, pois os filtros e aplicações sem moderação de photoshops tornam os candidatos praticamente irreconhecíveis.

E com o meio-frango na UTI, parece que a teoria darwiniana, poderá imperar nas eleições: o político mais apto e mais forte nas redes vai sobreviver.

E precisamos ser realistas, poucos atores políticos de São Leopoldo dominam bem este ambiente. Os ‘perrengues’ nas redes entre autoridades locais e cidadãos insatisfeitos são bestiais e dizem muito sobre quem está na linha de comando.

As tratativas de abertura do comércio travada nas redes mostram a inaptidão da prefeitura em lidar com as aflições da sociedade que em certos momentos parece sentir prazer mórbido em divulgar nomes de empresas com quadro afetado por covid-19, ou mostrar que pode simplesmente fechá-las.

As lives dominicais facebookianas do nosso poderoso comandante em chefe capilé, visivelmente afetado pelo stress de gerenciar a crise covid, transmitem mais sua impaciência com quem o contraria com perguntas que não quer responder, do que propriamente informações uteis ao cotidiano dos afetados pelas restrições, tencionando ainda mais o ambiente social.

As sessões da Câmara de São Leopoldo transmitidas pelo youtube, se mostraram bizarras, e deixa claro o óbvio: a maioria não sabe se comunicar nas redes.

Mas, como diria Darwin: a evolução acontece no caos e sobrevive quem consegue se adaptar.

A discussão nas redes trouxe novos protagonistas, pois os problemas trazidos pelo covid-19 que, na marra pluga, conecta, praticamente força todo mundo a ficar mais tempo na internet, em busca de novas soluções para tentar salvar 2021 (2020 está perdido mesmo), forçando as pessoas a prestar atenção nos discursos e tentar reconhecer soluções viáveis.

Muitos debates antes inexistentes pelas amarras da mídia tradicional, começam a ser travados ferozmente nas lives e no campo selvagem das redes sociais, desnudando o discurso vazio de muitos caciques que em crises reais não tem nada a oferecer.

 Soluções maduras finalmente começam a ser debatidas ameaçam a se sobrepor sobre o convalescente meio-frango e dá esperança que finalmente pelo menos surja o poder de debater boas ideias e quem sabe tendo como porta-voz novos agentes da política.

Mas não vamos nos iludir. O bicho é forte. E parece que a “cloroquina” é eficiente na maioria dos casos e pode tirar da U.T.I. tanto o meio-frango quanto os caciques trazendo-os de volta a arena eleitoral.

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