A véspera do Bicentenário da Imigração Alemã no Brasil, em 2024, é marcada com um amplo debate sobre a história contada oficialmente com início, meio e fim, ou seja, tudo o que aconteceu e como aconteceu está lá em livros de muitos e muitos anos, sem espaço para questionamentos. E foi assim até 1985 início da redemocratização no Brasil. Desde então muitas pessoas decidiram pesquisar, questionar e recontar a história com0 Andrea Petry e Paulo Moreira, respectivamente patrona e professor homenageado, na 37ª Feira do Livro de São Leopoldo. São professores doutores na história da Imigração Alemã, convidados do Berlinda News Entrevista desta quarta-feira (26).
Patrona – Andrea Petry
Conforme a patrona Andre Petry, professora na escola municipal Joao Carlos Von Hohendorff, Scharlau e coordenadora do curso de História na Faculdades Integradas de Taquara (Faccat), o interesse em pesquisar sobre a Imigração Alemã surgiu durante seu TTC sobre a origem da família de Henrique Petry, personagem que praticamente não aparece na história da família passou por Rolante, São Sebastião do Caí, Ivoti, Picada Café e Igrejinha.
Andrea é autora do livro “Diplomacia, Jogos Políticos, Intrigas e Guerra”, sobre a imigração no RS e o período da 2ª Guerra Mundial com enfoque nas relações entre Brasil e Alemanha.
-Pré-conceitos/pré-julgamentos
“Quanto mais eu pesquisava constatava que a história romantizada não era bem assim. Quase nada de romântico, mas também com coisas bonitas. Meu tetravô, por exemplo, foi a primeira criança a ser batizada na igreja de Igrejinha. Por outro lado, nenhum registro sobre os povos indígenas, afrodescendentes. E não podemos esquecer que quem escreve a história, escreve com seus paradigmas, com seus pré-conceitos e pré-julgamentos, assim foi a história escrita em São Leopoldo nos seus primórdios.”
Invisibilidade
“Como aluna do professor Paulo Moreira me senti provocada a pesquisar sobre a invisibilidade do povo afrodescendente e fui reler os livros de história para conferir quantas vezes aparecia a contribuição dos afrodescendentes e não encontrei nada. Aliás esse assunto foi trazido pelo Ricardo Charão em seu mestrado. É importante novos olhares sobre a história de São Leopoldo. ”
Afrodescendentes da Real Feitoria do Linho Cânhamo
“Tenho muitas perguntas ainda sem resposta sobre a Real Feitoria do Linho Cânhamo. Era uma fazenda de plantação de cânhamo com muitos afrodescendentes escravizados. Segundo Ricardo Charão, os afrodescendentes, em 1824, auxiliaram os imigrantes, ensinaram muita coisa sobre nossa vegetação, sobre os animais. Eles (imigrantes) não sabiam nada daqui. E a minha pergunta é para onde foram esses afrodescendentes? Não há qualquer registro.”
Homenageado – Paulo Moreira
Paulo Moreira, doutor em História, já foi professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo, e funcionário do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul.
Participação, visibilidade e representatividade
“Durante os 20 anos da Ditadura militar a gente tinha uma ideia de unidade e quando alguém questionava qualquer tipo de problema era aquela história do ame-o ou deixe-o. Só depois da redemocratização tem uma outra atmosfera com o crescimento dos programas de pós-graduação onde a pesquisa realmente é feita com recursos públicos. Também o crescimento dos movimentos sociais dos negros, dos indígenas, das mulheres, entre outros que reivindicam a participação na sociedade, implica em visibilidade e provocam a própria história que precisa ser representativa e nas últimas décadas tem tentado fazer isso. Em 1971 no auge da ditadura foi criado no RS o Grupo Palmares formado por jovens negros que lançaram o 20 de novembro. O Estado que se diz europeu e a população negra tem que exigir muito mais que em outros estados a própria participação e visibilidade.”
Real Feitoria da Linha Cânhamo era um sucesso agrícola
“É fácil de documenta por exemplo, que em 1824 quando os imigrantes chegam aqui a Real Feitoria do Linho Cânhamo está sendo desmontada. A Feitoria não era fracasso, era um sucesso agrícola. As famílias negras que estavam aqui tinham um grande sucesso agrícola mas não era isso que se queria, o objetivo era cordas para a navegação. Eram famílias de africanos de várias gerações, tiveram filhos, tinham nome e sobrenome que era raro na escravidão e que voltaram para o Rio de Janeiro porque pertenciam ao Estado.”
Registro da Presença Negra no Arquivo Histórico do RS – Paulo Moreira
“Diplomacia, Jogos Políticos, Intrigas e Guerra” – Andrea Petry , sobre a imigração no RS e o período da 2ª Guerra Mundial com enfoque nas relações entre Brasil e Alemanha.
Ouça abaixo a entrevista completa