No mês passado, foi apreendido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) um roteador portátil via satélite, que fornece sinal de wi-fi em áreas críticas, como florestas ou mares. Uma prisão com bloqueador de sinal de celular pode se enquadrar como uma área assim, de dificuldade de comunicação.
Autoridades dizem que o equipamento é usado, inclusive, pelas forças armadas americanas.
Por meio da assessoria de imprensa, a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) informou que, por questões de segurança, não pode dizer se o sistema que está sendo instalado pelo governo estadual é capaz de bloquear equipamentos que funcionam via satélite, como o que foi apreendido na Pasc — a informação oficial é de que o sistema “tende a bloquear todo o tipo de comunicação”.
Além da surpresa de descobrir um equipamento destes em poder de detentos recolhidos na penitenciária que deveria ser a de maior isolamento e segurança do RS, também é motivo de alerta o fato de que a localização do roteador só tenha ocorrido por causa de uma latrina entupida. Não houve denúncia sobre a existência do material.
O que ocorreu foi um entupimento no vaso sanitário de uma cela, em uma das galerias do Pavilhão A. Para verificar o problema, foi preciso fazer a manutenção a partir da cela que fica abaixo da que estava com o entupimento. E era justamente ali que o roteador estava escondido, embaixo do encanamento do vaso sanitário da cela superior. Na galeria em que foi achado o material estão reunidos detentos da facção Os Manos.
Na internet, um vendedor explica o funcionamento do equipamento:
“O aparelho funciona como roteador portátil via satélite. Com ele você pode criar uma rede Wi-Fi na qual você e mais quatro pessoas podem se conectar utilizando smartphones, tablets ou notebooks (raio de 30 metros). O aparelho é ideal para pequenos grupos que precisam de comunicação em áreas críticas”.
Ainda na descrição sobre características do equipamento, vendedores listam, por exemplo, que ele é seguro (“Impossível de ser rastreado, grampeado, quando a ligação é entre telefones da mesma marca”), robusto (“Possui proteção contra poeira e jatos de água”), durável (“Bateria dura até 5:30 horas de conversa ou 15:30 horas em standby”), permite uso por grupo (“Ideal para pequenos grupos. Comporta no máximo cinco pessoas”) e tem botão de pânico (“Ative o botão e emita SMS e e-mail para até 5 pessoas contendo sua localização”).
A fabricante do roteador apreendido na Pasc diz, em seu site, que é “uma empresa global de comunicações por satélite, que fornece acesso a serviços de voz e dados em qualquer lugar da Terra. Com sua constelação de satélites, a rede conecta pessoas e dispositivos nos lugares mais remotos do mundo – e perto de casa. A arquitetura de constelação exclusiva da (marca) a torna a única rede que cobre 100% do planeta. Os satélites são interligados para fornecer conexões confiáveis, de baixa latência e resistentes às intempéries que permitem a comunicação em qualquer lugar do mundo”.
No começo de junho, a Secretaria de Justiça e Sistemas Penal e Socioeducativo anunciou o uso de R$ 29,2 milhões, por meio do programa Avançar, para a contratação de tecnologia para bloquear o sinal de telefones em cadeias. Até novembro, conforme a pasta, a expectativa é de que 15 unidades prisionais tenham recebido os sistemas, incluindo aquele capaz de impedir o sobrevoo de drones — outra forma usada por criminosos para levar telefones, drogas e até armas para dentro das cadeias. A medida deve atingir 7 mil encarcerados.
O que diz a Susepe:
“A Susepe informa que apreendeu, no dia 20 de junho, por volta do meio-dia, um aparelho de conexão Wi-Fi, de conexão global via satélite, na Pasc.
O material, medindo 11x7cm, foi identificado através de uma revista de rotina realizada nas celas da unidade prisional e está sob investigação no Departamento de Inteligência da Susepe.
Esta tentativa decorre da mudança de paradigma no sistema prisional, uma vez que a Secretaria de Justiça e Sistemas Penal e Socioeducativo (SJSPS) está trabalhando na instalação de sistemas de bloqueadores de celular e radares anti-drones em 15 unidades prisionais.
A Pasc é a primeira unidade prisional a receber o sistema. A instalação foi iniciada no início de maio e tem previsão de conclusão para agosto. Isso inclui as fundações, a fabricação, a entrega e a montagem das torres.
Além disso, a SJSPS está trabalhando na implementação das chamadas “No Fly Zones”, áreas de bloqueio ao voo de veículos aéreos não tripulados-VANTs (Drones).
As NFZ’s (No Fly Zones) são áreas delimitadas ao bloqueio de voos para VANT’s, sistemática já utilizada nos aeroportos brasileiros e outros locais sensíveis e que são administrados, normatizados e regulados pelo Ministério da Defesa através do Comando da Aeronáutica e de órgãos subordinados, a exemplo do Departamento de Controle de Espaço Aéreo (DECEA).”
Por GauchaZH