A matéria exclusiva do site Berlinda sobre remédios doados na enchente de maio/2024, “guardados” em um prédio público da Prefeitura de São Leopoldo é a soma da catástrofe (imprevisível), pânico, urgência para salvar vidas, cenário de guerra por todos os lados, desconhecimento e falta de um plano de contingência que precisa ser elaborado e testado, mas torcendo para que nunca seja realmente necessário. A doação de remédios em catástrofes é um dos capítulos do plano de contingência reforçado pela nota técnica Nº 03/2024: Doação de Medicamentos em Resposta às Enchentes no Rio Grande do Sul. O documento foi construído pela Sociedade Brasileira de Infectologia, Sociedade Gaúcha de Infectologia e Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, com linguagem de fácil entendimento e um passo a passo de quem quer doar, transporte adequado, triagem, distribuição e armazenamento adequado, sempre conferindo a validade. Esse é o desdobramento técnico e cientifico.
Desdobramento político
O “depósito de remédios de doação” atinge o governo anterior (Vanazzi) e o atual (Heliomar Franco). Como um fato grave, risco à saúde pública em caso de invasão do local e uso dos medicamentos, foi ignorado, esquecido por tanto tempo? A situação era e é do conhecimento de várias pessoas dos dois governos e mesmo assim só veio à tona por uma denúncia anônima à reportagem da Berlinda. A primeira mensagem anônima pareceu absurda, porém em seguida veio a segunda que foi checada pelo jornalista Juliano Palinha ao meio-dia da quinta-feira (22), já com as imagens e vídeos do local. Porém só após ouvir integrantes dos dois governos a matéria foi publicada.
Escândalo
Antes de assumir a Prefeitura em 1º de janeiro, o governo atual teve mais de 60 dias de “transição”, teoricamente período para conhecer a estrutura pública, secretarias, o patrimônio físico (prédios, salas), saber onde funcionam os serviços, além da documentação. Chama atenção que o fato não tenha vindo à tona, o que certamente seria um escândalo, ficaria somente na conta do governo anterior que passaria o restante do mandato tendo que explicar o desperdício dos medicamentos doados. Talvez um modelo de transição presencial, no Centro Administrativo, com circulação de mais pessoas, hoje essa conta não existiria.
Pente-fino
Nem a Operação Pente-fino, anunciada em vídeo pelo prefeito Heliomar Franco (PL), nos 100 dias de governo, no barco-escola Peixe Dourado, conseguiu captar o depósito de remédios, que hoje deve ser um dos assuntos na tradicional reunião do secretariado, na sala ao lado do gabinete do prefeito.