Na manhã desta terça-feira (17), durante o programa Berlinda Entrevista, os dirigentes do sindicato Ceprol e representantes da comunidade escolar debateram a gestão dos temas LGBTQIA+ em defesa da diversidade nas escolas de São Leopoldo, em alusão ao Mês do Orgulho Gay. Participaram o diretor Fábio Martins, a presidente Cris Mainardi e a professora Sara Figueiredo.
Necessidade de dialogar
Logo no início, Fábio Martins enfatizou que, para transformar a escola em um ambiente acolhedor, é imprescindível promover um “diálogo aberto” sobre as siglas LGBTQIA+. Segundo ele, o tema precisa ser melhor trabalhado para combater a desinformação e o preconceito.
“Queremos ter um diálogo mais aberto sobre isso, porque a questão não precisa ser complicada e com dilemas de tabus. E isso precisa ser trabalhado nas bases escolares com pais, alunos e trabalhadores da rede escolar”, enfatiza.
Em seguida, Sara Figueiredo destacou experiências práticas na Escola Francisco Cândido Xavier, onde o projeto de gênero e sexualidade integra atividades regulares. Ela explicou como cada faixa etária recebe abordagens específicas para promover respeito e autoestima.
“Inicialmente nós ouvimos os alunos para entender o que eles sabem a respeito. E a partir disso, desenvolvemos as pautas em sala de aula. Em cada faixa etária o tema é abordado de forma diferente, gerando muitas conversas e esclarecimento de dúvidas”, relata.
Políticas públicas e avanços sociais
Cris Mainardi lembrou o recente resultado da Conferência Municipal, em que muitos participantes revelaram ter sofrido a primeira violência por orientação sexual dentro do próprio ambiente escolar ou familiar. Para ela, isso reforça a urgência de levar o debate às escolas. “A escola é o reflexo da sociedade que vivemos e lá temos a esperança de formar cidadãos com outro tipo de pensamento. Precisamos enfrentar a violência desde a base”, afirma.
Quanto à resistência nas famílias, Fábio apontou que a polarização política e velhos costumes fazem com que muitos vejam a pauta LGBTQIA+ como ideologia em vez de direitos humanos, contaminando o acolhimento. “A família, muito pelas divergências políticas, coloca a questão ideológica na frente do que é melhor para seus integrantes, dificultando o diálogo e a aceitação”, critica.
Sara ainda pondera que tratar do tema em sala de aula, acaba se tornando uma válvula de escape para muitos, gerando um ambiente de troca de ideias que não é encontrado, em muitas oportunidades, dentro de casa.
“Em algumas oportunidades, os alunos fazem desabafos e exposição de suas angústias. Jovens que estão começando a entender quem são. E eles não encontram espaços para falar sobre isso, como em casa por exemplo, onde o assunto é tabu ou tratado de uma forma muito velada. Muitas vezes a família não quer saber ou entra em negação quanto ao jovem que possa estar nesta situação. Famílias que percebem e rejeitam”, frisa a professora.
Na análise de Cris, o próprio movimento sindical precisa se desconstruir, pois ainda carrega práticas machistas e racistas. Ela citou a disputa em torno do Plano Nacional de Educação, onde houve tentativa de suprimir a palavra “gênero”. “Somos desafiados a disputas narrativas constantes. Em 2015 já enfrentamos grupos de extrema-direita que tentaram remover ‘gênero’ do Plano Municipal de Educação”, recorda.
Soluções aplicadas na prática
Sara reforçou a importância de a escola se posicionar como espaço de acolhimento, deixando claro que homofobia, machismo e racismo não serão tolerados, o que reduz significativamente comportamentos discriminatórios. “Quando deixamos claro que esses comportamentos não são tolerados, percebemos que casos de discriminação são rapidamente reprimidos pelos próprios alunos”, explica.
Por fim, Fábio apresentou o papel da pesquisa acadêmica em embasar políticas públicas voltadas ao público LGBTQIA+. Ele destacou seu doutorado na UFRGS sobre letramento estatístico como ferramenta para revelar a realidade dessas pessoas. “Embora o IBGE ainda não nos comtemple com essas informações, existem ONG´s e entidades que levantam essas estatísticas. E esses dados nos ajudam, mesmo que de forma tímida, a levantar informações e avanços que formalizam as políticas públicas para a comunidade”, reflete.
Assista o Berlinda Entrevista na íntegra: