POR ELENILTO SALDANHA DAMASCENO: A Bíblia vista como uma unidade

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É comum, em nossa tradição cultural, que a composição de um livro constitua uma unidade completa, mesmo que organizada em partes distintas. Conforme o crítico literário, escritor, filósofo, professor e teólogo canadense Herman Northrop Frye, é por isso que a análise crítica literária também “começa com a leitura completa de uma peça, tantas vezes quanto necessário para apreendê-la no seu todo. Chegando aí, o crítico pode começar a formulação de uma unidade conceitual que corresponda à unidade conceitual” do texto analisado.

Como crítico literário, Frye se mostra incomodado com a ideia pessoal de que a Bíblia não apresenta essa unidade, pois a considera “uma longa miscelânea em livro”, embora tradicionalmente seja vista como uma unidade. Em seu estudo O Código dos códigos: a Bíblia e a Literatura, argumenta que “há um motivo para isso: a Bíblia parece mais uma pequena biblioteca do que um livro de fato: parece mesmo que ela veio a ser pensada como um livro apenas porque para efeitos práticos ela fica entre duas capas. É verdade também que a palavra Bíblia significa inicialmente ‘ta bíblia’, os pequenos livros. Talvez não exista essa entidade chamada ‘a Bíblia’ […]. Contudo isso não importa, mesmo que seja verdade. O que importa é que se leu ‘a Bíblia’ tradicionalmente como uma unidade, e foi assim, como uma unidade, que ela pesou sobre a imaginação do Ocidente”.

Frye, então, propõe-se a analisar criticamente a Bíblia, para aferir se existe uma razão interna em seus textos a qual configure essa ideia de unidade entre eles, indique “a existência de um princípio unificador. Para um crítico este princípio deve ser mais de forma do que de significado”. Ele observa, inicialmente, que o conjunto da Bíblia apresenta resquícios de uma estrutura narrativa completa, apresenta um início e um fim; indica, também, a recorrência de certos elementos simbólicos, os quais remetem a sentidos metafóricos comuns. Frye ressalta que a Bíblia “começa com o começo do tempo, na criação do mundo; e termina com o término do tempo, no Apocalipse. No meio do caminho ela resenha a história humana, ou o aspecto da história que lhe interessa, com os nomes simbólicos Adão e Israel. Há também um corpo de imagens concretas: cidade, montanha, rio, jardim, árvore, óleo, fonte, pão, vinho, noiva, carneiro e muitas outras. Elas são tão recorrentes que indicam claramente a existência de um princípio unificador”.

É a partir dessas observações iniciais que o estudioso desenvolverá, posteriormente, uma rica abordagem sobre os elementos literários no conjunto de textos bíblicos, ao analisar, especificamente e detalhadamente, quatro categorias principais: linguagem, mito, metáfora e tipologia.

Afirmo que conhecer esse estudo não só potencializa leituras sobre relações intertextuais entre obras literárias e a Bíblia como também ressignifica a própria fé.

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