Berlinda News: São Leopoldo Fest é alvo de críticas de fóruns culturais municipais

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A realização da São Leopoldo Fest deste ano segue gerando muitos debates na cena cultural da cidade. Após a nota de repúdio do Fórum das Artes Cênicas de São Leopoldo, que classificou o evento como uma “redução drástica da participação cênica local”, demais representantes da cultura local também deram seu parecer sobre o tema.


A São Leopoldo Fest 2025 entra na semana decisiva para sua realização nesta semana, pois o evento deve ter produtora escolhida nesta sexta-feira (27) e a corte definida no sábado. A promotora cultura Cláudia Mariano, que representa o Fórum Municipal de Música, foi uma das entrevistadas do Berlinda News desta quarta-feira (25) e questionou a participação da classe artística local no evento.

Posicionamento dos músicos

Ela se manifestou na tribuna da Câmara de Vereadores nesta terça (25), questionando o cumprimento de lei municipal que indica a participação de artistas locais em eventos desta natureza. “Me manifestei como representante do Fórum da Música, deixando claro que em momento algum somos contra a realização da festa, que terá uma temática germânica, mas sim sobre o cumprimento da Lei da Casa de 2023“, indicou

De acordo com Cláudia, pelo Plano de Cultura existe uma exigência de percentual quanto a participação de artistas locais em eventos públicos. “O que isso significa: em todo e qualquer evento municipal, 50% de contratações deve ser preenchido por artistas locais. Então se são 4 dias de evento, queremos algo proporcional a isso”. ressalta. Ela informa que os músicos não estão contra a festa: “Que isso fique muito claro. Os músicos apenas estão reivindicando através do Fórum da Música, que eles também querem tocar.”.

Falta de pluralidade e esvaziamento da festa

Quem também participou do programa foi a vereadora Karina Camillo (PT), que também tem críticas quanto ao modelo da festa, por acreditar que ao se optar somente pela temática germânica, a São Leopoldo Fest exclui a pluralidade que o evento deveria ter. “Há um desmonte da São Leopoldo Fest e há uma falta de entendimento do Poder Público disso, pois se trata de festa muito esperada pela comunidade em geral, e parte dela, está sendo excluída”, conjecturou.

A vereadora lembrou que com a derrota do PT no pleito eleitoral municipal, se perdeu uma forma de organização de evento mais abrangente: “Nós perdemos a eleição aqui em São Leopoldo e nossa forma de organizar essa festa, junto ao prefeito Vanazzi, era outra”, reiterou. A vereadora cita que havia uma intenção de diversificar mais o evento.

“Um evento grandioso que envolvesse todas as raças e cores. E claro, a participação do que já está determinado por lei dos músicos locais. E também a possibilidade de oferecer melhores condições financeiras para um público mais de baixa renda, poder acompanhar os shows nacionais e demais manifestações artísticas da festa” avaliou.

Posicionamento do Fórum da Cultura Germânica

O Fórum da Cultura Germânica também emitiu uma nota, onde repudia a falta de pluralidade e diversidade do evento. Entre seus trechos, o órgão cita que: “manifestamos profunda preocupação e descontentamento, pois a festa pertence à comunidade leopoldendense e não a gestão municipal. é um momento em que o artista local ganha visibilidade de trabalho e valorização. Durante anos mais de 120 programações artísticas participavam deste grande evento. A festa fomenta a cultura e economia criativa local e não estão contemplando a diversidade de gêneros, tão pouco respeitando a pluralidade de nossa população. O fórum também reitera a importância de se dar o devido respeito a negritude dentro da celebração do aniversário da cidade. A decisão de reduzir as apresentações a apenas quatro artistas locais ao formato dito germânico, ignorando a pluralidade cultural que define São Leopoldo, é inaceitável! Pedimos para ter no mínimo uma apresentação de cada gênero já que o formato será menor”.

Ao final do programa, o presidente do Conselho Municipal de Turismo – Comtur – e também presidente do Fórum de Cultura GermânicaAndré Rotta, deu seu posicionamento sobre o evento, reforçando alguns itens já destacados em nota.

“Eu falo só como representante do Fórum da Cultura Germânica: esse assunto não foi debatido no Conselho Municipal de Turismo. Sobre a festa, é sempre bom lembrar que desde 2016 se trata de um evento com recursos que não são do município. Ocorre através de licitação e a empresa vencedora é que arca com o custo de produção, deixando o município apenas com custos indiretos”, aponta

Ele lembrou que há amplos debates sobre as finanças da festa desde 2018, pois na sua visão, ela remunera muito pouco o município, sendo um formato de evento que precisa ser aprimorado. “Se olharmos para o Kerb de Estância Velha e de Dois Irmãos, estes geram o retorno ao município em torno de R$ 350 mil. E em São Leopoldo isso gira em torno de R$ 30 mil“, informa.

Cláusula previa repasse ao município

Rotta, inclusive, destaca que foi retirada uma cláusula da licitação da São Leopoldo Fest, que previa o repasse de um percentual do valor dos ingressos para o município. “Então se havia a necessidade de um retorno financeiro com o evento, o município deveria ter trabalhado no fortalecimento desta cláusula. Logo, a execução da festa em nada tem a ver com a situação financeira do município”, avalia.

E outro detalhe importante que Rotta reforçou, é acerca do formato atual da festa, que em seu ponto de vista vai custar praticamente o dobro do investimento para a produtora, em comparação às festas anteriores.

“Se imaginarmos que a São Leopoldo Fest do ano passado tinha um orçamento aproximado de R$ 1,5 milhão, em um evento realizado em três finais de semana, esse edital prevê quatro dias de evento ao custo de R$ 900 mil. E isso talvez seja um ponto que inviabilizaria a festa, porque se trata de um desafio enorme para a produtora, recuperar esse investimento em um prazo tão curto de evento”, finalizou.

O Conselho Municipal dos Povos Tradicionais de Matriz Africana (COMPOTMA) e o Fórum Municipal dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana (FOMPOTMA)

Exclusão da Cultura Negra

O Conselho Municipal dos Povos Tradicionais de Matriz Africana (COMPOTMA) e o Fórum Municipal dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana (FOMPOTMA) também se manifestaram sobre o formato da SLFest 2025.

Não é apenas uma escolha estética ou temática: é uma escolha política.
A exclusão da nossa presença representa mais um episódio de invisibilização das culturas negras e dos Povos de Terreiro, que historicamente são marginalizados, mesmo contribuindo ativamente para a construção social, espiritual e cultural desta cidade.

Lembramos que a festa é financiada com recursos públicos. Portanto, não se pode aceitar que os mesmos recursos que também vêm do nosso povo sejam utilizados para apagar nossas histórias, nossos tambores e nossos saberes.

A cultura de matriz africana não é folclore e não pode ser tratada como opcional. É direito garantido, é patrimônio vivo e precisa ser respeitado, valorizado e presente em todos os espaços públicos e políticas culturais.

Lembramos que a festa é financiada com recursos públicos. Portanto, não se pode aceitar que os mesmos recursos que também vêm do nosso povo sejam utilizados para apagar nossas histórias, nossos tambores e nossos saberes.

Axé, ancestralidade e resistência!

Assista o Berlinda News na íntegra:

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