Tenho uma depressão diagnosticada no início da minha idade adulta. Convivo com ela desde a infância. Ela tinha outros nomes: preguiça, esquisitice, timidez agressiva.
Estou sendo medicado desde que perdi o medo juvenil de ser domesticado. Estar vivo é ser domesticado. Transito entre a euforia exuberante e tristeza criminosa. Na euforia reside o monstro que mais temo. Aquele que vem me possuir com espelhos néon. O narcisismo exacerbado.
Ah, quando nesse estado, que vilão sou! Curtindo as vilanias mais mundanas. A tristeza me deixa mais elegante e bondoso e, se puder me recolher ao mínimo do mínimo da minha casa, lido com ela graças aos remédios. Ainda que fique improdutivo, esquivo e calado. O silêncio é o algoz e o doador de luz nessas circunstâncias. Tenho o coração de um ermitão.