Os “bebês reborn” — bonecas hiper-realistas que imitam recém-nascidos — conquistaram as redes e se tornaram febre cultural, ao mesmo tempo em que mobilizam legisladores a criar normas para coibir abusos e oferecer apoio psicológico.
De hobby de nicho a fenômeno global, os reborns agora geram debates sobre fila em maternidades, multas para quem tenta atendimento médico e até disputas judiciais pela guarda das bonecas. Especialistas em saúde mental, juristas e parlamentares defendem medidas que vão do veto a cotas especiais de atendimento até programas de acolhimento no SUS.
O que são e por que explodiram no Brasil
Os bebês reborn são bonecas produzidas artesanalmente com silicone e pintura ultrarrealista, destinadas a colecionadores e entusiastas que chegam a tratar o objeto como um filho. Segundo dados do Google Trends, o interesse pelo tema teve picos em outubro e dezembro de 2024 e voltou a subir em abril de 2025, refletindo encontros de donos de reborns e vídeos virais no TikTok. No Brasil, grupos no WhatsApp e Instagram somam dezenas de milhares de seguidores, ampliando o fenômeno cultural e afetivo.
Rebatendo filas e criando políticas públicas
Preocupados com tentativas de conseguir atendimento médico para bonecas, deputados de Minas Gerais apresentaram projeto que proíbe hospitais de atender reborns e impõe multa de até R$ 30.000 para quem furar fila com esse artifício. Paralelamente, em São Paulo e no Rio de Janeiro, outras propostas miram oferecer apoio psicológico gratuito pelo SUS a pessoas que desenvolvem forte vínculo emocional com os reborns, em uma iniciativa para prevenir isolamento e dependência afetiva. No Congresso Nacional, tramita ainda proposta para exigir registro de “pais reborn” em cadastro único, com o objetivo de monitorar casos extremos e garantir que recursos de saúde sejam usados por quem realmente precisa.
Disputa judicial e patrimônio digital
A febre também chegou ao Judiciário: em Goiânia, um casal disputou na Justiça o direito de administrar o perfil de uma bebê reborn no Instagram — usado como fonte de renda e publicidade. “A conta é um ativo digital e também pode ser considerado patrimônio”, explicou a advogada Suzana Ferreira, que atendeu o caso. Além da guarda simbólica da boneca, as partes brigam pela divisão de lucros gerados pelo engajamento, mostrando como o fenômeno ganhou dimensão econômica.