Antes de falar do último livro de Paulo Prestes, sempre é bom conhecer um pouquinho da vida do escritor. Paulo Adílio Prestes Ferreira é natural de São Luiz Gonzaga e mora em São Leopoldo desde 1968. Casado com Magda Altafini, pai de Ana Cristina, Letícia e Iohana. Avô de João Paulo, Caio e Cleo.
Prestes, professor aposentando e formado em História pela Unisinos é autor de livros como: Histórias Petistas do RS; Para Além das Aparências: Um olhar sobre a Educação em São Leopoldo; No Balanço do Trem; Uma Infância nas Missões do RS, nos anos 1960: Muitas Histórias para contar; Muita História na Biografia de João Corrêa em parceria com Sônia Corrêa (in memorian) e São Leopoldo nos anos 1940, 1950 e 1960 nas graciosas memórias infantojuvenis de Beatriz Plentz, em parceria com Beatriz Plentz.
ENTREVISTA
CIDADE: O que te motivou a escrever um livro sobre 1973?
PAULO PRESTES: A motivação está relacionada à minha formação como historiador, às vivências que a vida me proporcionou e ao estilo de escrita que desenvolvi, que procura combinar História e Literatura. Quem ler o livro entenderá que o ano de 1973 foi muito marcante na História da cidade e, ao mesmo tempo, na vida do escritor, então um adolescente.
CIDADE: O medo de uma guerra nuclear era constante? Como isso afetava as relações humanas em São Leopoldo?
PRESTES: Eu não percebi um medo constante de guerra nuclear, naquele período, aqui no nosso país ou na nossa cidade, creio que esse temor foi mais forte nos Estados Unidos da América. Embora o Brasil tivesse iniciado o seu programa nuclear com a usina de Angra dos Reis, em 1972, o assunto não era muito comentado no meio escolar. As relações humanas eram mais afetadas pelo contexto autoritário que se vivia no país e que incidia sobre as relações políticas na cidade. Por exemplo, conforme registrei no livro, a professora Miriam Fialkow, que se elegeu vereadora pelo MDB, em 1969, teve o seu mandato cassado. O jovem médico leopoldense, João Carlos Haas Sobrinho, foi assassinado no Araguaia. As pessoas pouco ou nada falavam sobre política, pois estavam proibidas. Na escola, os professores eram proibidos de se organizarem em sindicatos e os grêmios estudantis foram fechados ou, quando existiam, não tinham autonomia.
CIDADE: Como podemos evitar que o autoritarismo nos atinja novamente?
PRESTES: Essa pergunta é muito importante e sintetiza o grande desafio que a sociedade brasileira e outras sociedades enfrentam nos dias atuais, em que movimentos de extrema direita colocam em risco a Democracia. O risco é grande, principalmente, a partir da ação das chamadas big techs, que tem potencial para influenciarem o imaginário e o ideário das sociedades. Creio que o investimento em Educação de qualidade é o melhor antídoto contra os perigos do autoritarismo. Nesse ponto, creio que a História e a Literatura tem grande contribuição a dar.
CIDADE: O que mais te empolgou e o que mais te entristeceu escrevendo o livro?
PRESTES: Sempre fico empolgado ao recorrer à memória para revisitar o passado e escrever, é um exercício que me traz grande satisfação. Em especial, relembrar os amores da adolescência, os possíveis e os imaginados, me garantiu momentos de prazer. Obviamente, remexer no passado não traz só alegrias, mas também algum sofrimento, ao constatar que a humanidade não superou comportamentos preconceituosos ou violentos, que fizeram e fazem muitas pessoas infelizes. A tristeza esteve presente ao escrever a história mais tensa do livro, que resultou num feminicídio, seguido de um suicídio, enfim, não há como ficar imune ao se escrever sobre os dramas das pessoas.
CIDADE: Quando e onde será o lançamento?
PRESTES: Estou planejando fazer vários lançamentos, o primeiro deles será no dia 30 de maio, entre 17:00 e 20:00 horas, na Câmara de Vereadores de São Leopoldo. Mas já tenho alinhavado um lançamento na Glingy, em dia e horário a serem definidos, outro no espaço cultural Ana Terra. E não pararemos por aí.