Ali estávamos
Vera. Franco(irmão de Vera) e Eu (namorado de Vera) parados na chuva. Tontos.
Estávamos indo para uma festa. Bonitos no gel e na goma. Vera estava floral. Franco esperançoso em se divertir e arrumar um pós festa. Eu estava sendo
Eu. Emburrado e cabisbaixo. Por tudo. Um luto que precisava de lítio.
Estávamos ali parados na chuva.
Pensando em como ajudar os dois homens que ajudavam o casal do carro que sofrera o acidente.
Desviaram de um belo cavalo na chuva torrencial.
Ou como dizia um dos acidentados: um esqueleto de cavalo flutuando em chamas.
A esposa (soubemos que eram casados depois, quando ouvimos dizerem isso aos paramédicos) repetia isso em slow motion.
O marido com olhos maiores que o mundo concordava.
Os dois homens enormes e barbados gritavam conosco: Fiquem parados não se movam. Não se envolvam.
E ali ficamos parados. Vera. Franco. Eu.
Percebi que um dos homens barbados usava uma coroa e o outro um chapéu.
E rompeu um clarão.
Logo a ambulância estava ali. A chuva havia parado .A ambulância partiu com o casal anestesiado.
Nenhum sinal dos barbados. Quase nenhum. Numa poça tricolor de gasolina, o chapéu de um deles brilhava em tons de roxo
Entramos no carro. Nada falamos até a festa. Nada parecia ter acontecido. Tirei o chapéu da cabeça. Me ajoelhei e pedi Vera em casamento.
Everton Luiz Cidade é poeta e músico