Na narrativa literária, a caracterização do espaço é um dos aspectos do nível descritivo do plano ficcional. O crítico literário, escritor, filósofo e sociólogo francês Roland Barthes classifica a caracterização do espaço como uma função integrativa do tipo “informação”, a qual serve para “relacionar o enunciado com a enunciação, enraizar a ficção no real” e produzir efeitos de realidade e de verossimilhança.
A representação do espaço contribui para o estabelecimento de uma ambientação. Logo, espaço e ambientação são categorias relacionadas, mas distintas. A descrição do espaço coopera para a composição da ambientação, a qual é um quadro de significados mais complexos. Conforme o crítico literário e professor Antônio Dimas, “o espaço é denotado; a ambientação é conotada. O primeiro é patente e explícito; o segundo é subjacente e implícito. O primeiro contém dados da realidade que, numa instância posterior, podem alcançar uma dimensão simbólica”.
A ambientação é a percepção ou significação conotada que o espaço físico assume na narrativa. O espaço representado contribui na constituição da ambientação e, através desse processo, se estabelece uma sintonia entre o plano físico descrito e o plano simbólico humano. A análise da ambientação ou análise poética do espaço é o que o filósofo e poeta francês Gaston Bachelard “designa de topoanálise, isto é, o estudo psicológico sistemático dos recantos de nossa vida íntima” representados pela ambientação e pelo espaço. Segundo o crítico literário e professor Domício Proença Filho, “o ambiente, também chamado meio, localização, envolve as condições materiais ou espirituais em que se movimentam as personagens e se desenrolam os acontecimentos. Através dele podem-se configurar traços das personagens e mesmo a própria história”.
Portanto, os elementos caracterizadores do espaço apresentam funcionalidade na narrativa literária. Esses elementos relacionados à representação do “topus” (espaço), articulados em uma narrativa, apresentam a função fundamental de criação dos efeitos de realidade e de verossimilhança no plano ficcional. Assim, quando uma história se detém na descrição de detalhes do espaço cenográfico, convém considerar que eles configuram uma ambientação a qual revela aspectos implícitos e importantes relacionados às personagens e à própria compreensão do desenvolvimento da história.