POR ANGELA MARIA MÜLLER: O Relógio do Juízo Final

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Comecei o dia ouvindo 2 Minutes To Midnight[1], que significa “2 minutos para a meia-noite” (tradução livre),  do Iron Maiden, e a ideia de escrever sobre o cenário atual em que vivemos.

Sob todos os aspectos é um cenário distópico, pelo menos, no meu ponto de vista. Se não, o que dizer de pessoas que, em pleno século XXI, afirmam categoricamente que a Terra é plana? Ou defendem com fervor o criacionismo e negam o aquecimento global? Nem abordarei as manifestações de racismo, homofobia e tantas outras que atentam contra a vida e a liberdade, pois a lista é comprida. São grupos que desacreditam a Ciência, atacam pesquisadores, professores, todas as pessoas que, de alguma forma, trazem à luz o conhecimento e que ousaram, um dia, sair da caverna. Não se tratam apenas de grupos locais, brasileiros, mas de grupos que se manifestam ao redor do mundo, que têm poder e financiamento. Suas vozes ecoam pelos quatro cantos da Terra. Na verdade, esse fenômeno não é novo, porém, os avanços tecnológicos e o surgimento da Internet amplificaram a mensagem e a repercutiram em todas as camadas sociais.

Curiosamente, os extremistas e ultraconservadores se utilizam dos avanços do conhecimento científico para negá-lo. As novas tecnologias tornaram tudo mais fácil e barato. Qualquer um pode criar um site ou um perfil nas redes sociais e publicar o que lhe der vontade, ser um “formador de opinião” ou um pseudocientista. É só olhar a infinidade de fake news que surgem todos os dias. Bem diferente da publicação de um livro ou artigo científico, resultado de anos de pesquisa séria e, geralmente, de alto custo. A desinformação e a polarização de temas sensíveis, como política ou crenças religiosas, por exemplo, são meios eficazes de despertar ressentimentos adormecidos e transformá-los em tochas que acendem fogueiras. Enquanto isso, o Big Brother orwelliano define nosso destino.

Já assistimos vários filmes desses, não é?

Nós, reles mortais, não passamos de peões num tabuleiro de xadrez em que é disputado o controle ideológico político e social mundial. “Briga de cachorro grande”, como diria meu falecido pai. Como peões, somos descartáveis, meros números nas estatísticas. Não é isso que vemos acontecer, por exemplo, com as vítimas de COVID-19?

Nas guerras, nos identificam como “danos colaterais”, civis sacrificados ou desterrados em nome de algum deus fundamentalista, de interesses econômicos ou para dominar territórios. Essas disputas acompanham a humanidade desde o berço e têm causado uma devastação terrível. Mas, a espécie Homo sapiens esqueceu que não é a única que povoa o planeta azul. Todavia, é a única espécie que se desconectou da Natureza.

Somos os protagonistas da era do Antropoceno, assim denominada pelos estudiosos para identificar o período em que as atividades humanas começaram a impactar, em escala mundial, o clima do planeta e o desempenho dos ecossistemas. Transformamo-nos em consumidores e destruidores contumazes. Nos apropriamos dos recursos naturais e os exploramos até se esgotarem, provocamos a extinção de milhares de espécies, algumas vitais para nossa sobrevivência. Poluímos e envenenamos o ar, o mar, a terra. Matamos uns aos outros de muitas maneiras, sem remorso ou constrangimento, em nome da moral e bons costumes, em troca de poder e dinheiro.

O impacto que causamos é tão violento que alteramos o equilíbrio natural do planeta e, segundo evidências científicas, caminhamos para a nossa autoextinção. Não à toa, os cientistas da Universidade de Chicago, mantém um relógio simbólico que marca o tempo que resta para a humanidade chegar até à meia-noite. A hora limite, meia-noite, representa um evento apocalíptico. De acordo com a Wikipédia[2], o relógio, denominado Relógio do Juízo Final, criado em 1947, durante a Guerra Fria, foi iniciado em sete minutos para a meia-noite. Desde então, a contagem do tempo tem avançado ou retrocedido de acordo com a ocorrência de eventos de impacto mundial (guerras, testes nucleares, acordos de armistício, pandemias, etc.). Em 2020, o relógio foi atualizado e, agora, marca 11:58:20, ou seja, falta 1 minuto e 40 segundos para a meia-noite. Não resta muito tempo para tentarmos reverter esse cenário apocalítico, mas para isso é imprescindível que haja uma mudança radical de comportamento no que diz respeito ao nosso modo de vida e buscar a reconexão com a Mãe Terra. Francamente, penso que estamos longe de conseguir.

E sobre isso, há uma dezena de filmes também.

 

Angela Maria Müller – Arquiteta e Urbanista, graduada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, pós-graduada em Cidades: Gestão Estratégica do Território Urbano (UNISINOS). Participa da Oficina de Produção Psicanalítica e Literária, coordenada pelo psicanalista e professor Paulo Fernando Monteiro Ferraz. Faz parte do coletivo de escritores independentes de São Leopoldo/RS.

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