João Mendes, atleta da Ginástica de São Leopoldo, fica em 5º lugar no Mundial de Parkinson

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De São Leopoldo para o mundo. João Mendes concluiu sua jornada pelo Mundial de Parkinson, em Maizières-lès-Metz, na França. Atleta da Sociedade Ginástica de São Leopoldo, o leopoldense conquistou um quinto lugar na classe 3.

João Mendes fez sua estreia no mundial, que está em sua 4ª edição. O mesatenista de São Leopoldo perdeu nas oitavas de final para o espanhol Jose Alonso e encerrou sua partição com um 5º lugar.

O torneio é muito mais uma forma de promover a união dos competidores, bem como seus acompanhantes e parentes. Mas há um torneio em disputa e, para que todos possam competir em condições similares, a ITTF (Federação Internacional de Tênis de Mesa) ajustou e criou três classes.

  • Classe 1: aquele com mais opções de movimento e menos avanço da doença de Parkinson, além de mais habilidades no tênis de mesa.
  • Classe 2: aquele com uma gama média de movimentos, Mal de Parkinson e habilidades no tênis de mesa.
  • Classe 3: aquele com movimentos mais limitados e maior avanço da doença de Parkinson, com menos habilidades no tênis de mesa.

E há também critérios usados para a classificação dentro de cada uma das classes: idade, ano que convive com a doença de Parkinson, o estágio da doença e o nível dentro do tênis de mesa.

A definição de classes e critérios permite que todos os competidores possam participar de jogos disputados e o público também possa se emocionar e se divertir. O único atleta brasileiro, por exemplo, vai competir na classe 3. João Mendes de Oliveira Júnior tem 62 anos, convive com o Parkinson há quatro anos, sua doença está no estágio 2 e ele tem habilidades intermediárias no esporte.

No total, são 116 competidores, entre homens e mulheres, com mais de 15 países participantes, todos jogando tênis de mesa e contra o Parkinson. Esta é a 4ª edição do torneio, que teve sua estreia nos Estados Unidos em 2019. Depois veio a edição na Alemanha em 2021 e a da Grécia em 2022.

QUEM É MENDES I Matéria publicada no site da Federação Gaúcha Tênis de Mesa

Há 5 anos, João Mendes de Oliveira Júnior finalmente obteve o diagnóstico sobre os incômodos no corpo: Doença de Parkinson.  Como é uma enfermidade sem cura e degenerativa, a meta é retardar o seu desenvolvimento.

Mendes, como é conhecido, procurou nesse período atividades que fizessem com que ele convivesse minimamente bem com este impasse. Em 2023, sua esposa, Norma Cristina Ferreira Amaral, viu uma postagem de um médico, em uma rede social, falando o quanto o tênis de mesa é uma atividade positiva contra esse mal. Como o problema afeta o sistema motor e o nervoso central, por conta da diminuição da produção de dopamina, as exigências do tênis de mesa, como boa coordenação e tomadas de decisões rápidas,  estimulam o cérebro, e de alguma maneira, inibem o progresso do mal que leva o nome do cientista britânico , James Parkinson, que descreveu a doença no começo do século XIX.

Praticar esportes para Mendes nunca foi problema. Seu pai, João Mendes de Oliveira, paulista de Socorro, foi jogador de vôlei do Palmeiras (Palestra Itália na época)  e posteriormente, seguiu atuando na SOGIPA, quando idoso. Sua irmã, Eliane Cecília dos Santos, é professora de ginástica artística, e foi treinadora de Adriana Rita Alves, técnica da Daiane dos Santos, no título mundial de 2003, nos Estados Unidos.

Mendes, na infância e na juventude, praticou vôlei, basquete e judô. Tênis de mesa jogava por recreação com amigos e familiares. Funcionário na Petrobrás, há 25 anos, ele perguntou se alguém conhecia um local para praticar tênis de mesa e indicaram-lhe, Albair Camargo, que já estava aposentado da empresa, e é uma das referências da modalidade no estado.

Mendes durante treinamento em São Leopoldo/RS. Imagem: Divulgação.

Bita, como é conhecido, disse para Mendes ir à Sociedade Ginastica de São Leopoldo, projeto que ele estruturou e é um dos clubes mais tradicionais do Rio Grande do Sul.

“É curioso pensar, que eu nasci em São Leopoldo e não tinha vínculo com o local. Me criei em Porto Alegre e nunca mais tinha voltado à cidade que nasci. Retornei apenas para jogar tênis de mesa, que ajudaria no meu tratamento da doença.”, disse Mendes, em entrevista exclusiva ao tenisdemesagaucho.org.

“ Posteriormente, pesquisei treinamentos e horários na SOGIPA, mas os de São Leopoldo estavam mais de acordo com a minha rotina”, emendou o atleta de 62 anos.

Durante treinos e jogos, o que a doença mais o atrapalha é na hora do saque, devido ao tremor na mão esquerda.

“Eu sou destro e o meu problema de tremer sempre foi com a mão esquerda. Por volta dos 40 anos, eu sentia pequenos tremores e que depois se agravaram. Então, durante a disputa do ponto, não tenho problemas, mas, para sacar as vezes fica complicado, pois, tem que por a bolinha na palma da mão, equilibrá-la e levantá-la. Quando a mão treme, o movimento fica prejudicado. Nessas situações tem que relaxar e fazer meditação, para voltar ao normal”, relatou.

Além dos treinamentos que faz com a Sociedade Ginástica, às terças e quintas-feiras, há às quartas e alguns sábados, um treino específico com o técnico Humberto Schmidt. Este afirma não passar nenhuma atividade específica para o seu aluno, por conta da doença.

“É muito bom treinar o Mendes. É um aluno dedicado em todos os exercícios, empolgado com o esporte e disposto a melhorar. O treinamento com ele na verdade é simples e é o mesmo que uso com outros atletas da equipe. Se deixar o Mendes fica treinando por horas, acho que eu canso antes dele (risos)”, disse Schmidt.

Há 8 meses se dedicando ao tênis de mesa, Mendes disse não saber precisar se houve melhoras em relação ao Parkinson.

“A Doença de Parkinson ainda é pouco estudada e isso faz com que não se tenham diagnósticos mais precisos do que melhora ou não. Dizem que o tênis de mesa ajuda a retardar os avanços dela e eu não sei exatamente ainda sobre o meu caso. Acredito que se não estivesse praticando o tênis de mesa, provavelmente eu estaria pior”, relatou, o jogador que é formado em Engenharia Elétrica.

“ Na verdade, a doença começou a ter mais destaque quando o ator Michael J. Fox e o músico Nenad Bach, falaram abertamente sobre o mal que eles sofrem. Isto acaba chamando mais a atenção da mídia e , por consequência, da medicina. Por isso, ainda faltam resultados mais precisos sobre o que se pode fazer contra o Parkinson”, emendou.

No segundo semestre de 2024, João Mendes disputou seus primeiros campeonato: os estaduais de Vale Real e Antônio Prado, além do Challenge Plus de Caxias do Sul. Entre os dias 23 e 27 de outubro, ele disputará seu primeiro torneio longe do Rio Grande do Sul. Em Maizières-lès-Metz, na França, haverá a quarta edição do Campeonato Mundial de Parkinson. Além da competição, haverá um congresso com especialistas que buscam combater a doença.

“Encaro este torneio como um investimento na saúde. Quero conhecer e interagir com pessoas que sofrem do mesmo mal que eu e trocar experiências, vendo o que eles fizeram e o que eu posso aplicar ao meu cotidiano. Além, claro, de aprender sobre tênis de mesa e ir o mais longe possível na competição”, relatou o gaúcho.

“Minha expectativa é que ele consiga colocar em prática o que viemos treinando nas últimas semanas com a nova borracha de pino longo no backhand, além de algumas jogadas estratégicas a partir do saque e terceira bola de forehand. Espero que ele possa ter um bom desempenho, mas acima de tudo que se divirta tanto quanto nos divertimos nos nossos treinos semanais”, emendou o treinador Schmidt.

‘Encaro como algo que tinha que acontecer e preciso enfrentá-la’

Ter uma doença degenerativa, e sem cura, não é fácil. Para encarar a situação, é necessário ter uma boa saúde mental, para buscar alternativas para o retardo da enfermidade e viver da melhor forma possível. É com este pensamento, que João Mendes, encara isto há 5 anos.

“Não tenho problema emocional com a doença. As questões são físicas. Penso que existem doenças piores. Todo mundo passará por algum problema de saúde. Eu encaro como algo que tinha que acontecer e preciso enfrentá-la. Vi ali uma oportunidade para conhecer o tênis de mesa. Minha nova paixão”, finalizou.

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