A difícil arte de ser brasileiro… em outro país

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Não é fácil ser brasileiro. Você nunca sabe como estará a inflação na próxima semana, se conseguirá o exame médico para este mês ou só para daqui a seis meses, se fará o percurso casa-trabalho-casa sem ser assaltado e se será capaz de pagar todas as contas. Por esses motivos e por tantos outros que de uns tempos pra cá muitos estão deixando o país para tentar uma vida mais estável e com certa qualidade na Europa, na América do Norte ou em qualquer outro lugar que pareça ser melhor que o Brasil. O sonho é grande e a ingenuidade maior ainda. É quando chega em outro país que o brasileiro sente o peso da nacionalidade. Se ser brasileiro no Brasil não é fácil, imagina fora. Além de ter que lidar com uma vida completamente diferente, você também terá que enfrentar situações e reações novas, como por exemplo, o preconceito pelo simples fato de você ser: brasileiro. Não importa sua idade, sexo, nível de escolaridade, raça e opção sexual. Você é brasileiro e isso já dá abertura para insinuações, piadinhas e agressões verbais diretas, sem falar das agressões físicas e dos olhares julgadores que estão sempre por todos os lados.
Falo isso por experiência própria. Afinal, morei em Nova York e há três anos que vivo em Portugal. Aqui você não precisa se preocupar com a violência e nem com a instabilidade financeira. Sua preocupação é outra: não sofrer xenofobia. Para quem não sabe, “xenofobia” é o nome bonito dado para o preconceito com pessoas de nacionalidades diferentes da sua. É crime, mas parece que as pessoas não se importam muito com isso. Afinal, a prepotência e o poder que sentem por estarem no próprio país fazem delas seres irracionais.
Eu vim para Portugal fazer uma pós-graduação, mas ao longo desse período aqui, precisei trabalhar e me aventurar por áreas desconhecidas. Encontrei muita gente legal. Português tem um jeito grosseiro próprio de ser que muitas vezes é até divertido. Fiz amigos portugueses que levarei para a vida. Não posso, porém, fechar os olhos e nem os ouvidos para o que vi e ouvi daqueles que não gostam nem um pouco da minha presença em terras tugas. “Isso aqui não é a Amazônia, não minha família! É Portugal! Volta pra sua tribo!”, gritou um cliente para mim enquanto eu trabalhava em uma loja de uma empresa de telecomunicações. Motivo da agressão: ele estava insatisfeito com a operadora de celular dele. Que culpa eu tinha? Ser brasileira. Razão suficiente para ele dizer o que quis. A sensação é de impotência e vontade de voltar pra casa onde você pode ser culpada e julgada por qualquer crime, menos por ser brasileira. Esse é um exemplo meu, mas existem tantos outros por aí. A ponto de um grupo de conterrâneas criarem um perfil no Instagram, o @brasileiranaosecalam (Brasileiras Não se Calam). Ali, temos a liberdade de denunciar casos de xenofobia sem medo.
O que me fez escrever sobre o assunto, porém, foi o caso de racismo envolvendo o jogador Neymar neste último final de semana, em que ele foi chamado de macaco por um jogador espanhol adversário. A cena poderia ter acontecido mesmo dentro do Brasil, em uma partida do Campeonato Brasileiro, por exemplo, mas o fato de o xingamento ter vindo de um estrangeiro, tem um peso maior. Imagina você ser brasileira e negra no exterior? Ou brasileiro e gay? O preconceito, infelizmente, está em todo canto, até mesmo dentro do nosso país. Isso é inegável. O problema é que quando você sai dele, você está correndo o grande risco de ser vítima de racismo, homofobia e xenofobia.
Como lidar com isto? Não lida. O Neymar, por exemplo, até tentou processar o ocorrido, mas não conseguiu. Depois de um certo tempo, ele agrediu o jogador espanhol e foi expulso. Justificável? Não. Julgável? Muito menos. Muitas vezes, abandonar o campo e voltar para casa é o melhor que fazemos.

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