No Berlinda em Focco desta quarta-feira, 21, a Major Bibiana Menezes, chefe do P4 do CRPO, detalhou o funcionamento da rede de proteção à mulher no Rio Grande do Sul e em São Leopoldo, destacando avanços e apontando os desafios culturais que ainda sustentam altos índices de violência doméstica.
Rede de apoio estadual
Bibiana lembrou que, durante sua entrada na Brigada Militar, São Leopoldo figurava entre as dez cidades brasileiras com maiores taxas de violência contra a mulher. “Em compensação, aqui monitoramos nossa violência — algo que falta em muitos municípios — e, graças a uma rede de apoio eficiente, deixamos esse triste ranking”, afirmou. Para ela, o combate ao feminicídio começa com o acesso à informação e ao sistema de proteção, pois “a maioria das mulheres que morrem não havia feito denúncia, acreditando que a situação familiar melhoraria”.
Ocorrências em São Leopoldo
Segundo a Major, violência doméstica hoje é o chamado mais frequente pelo 190, com média de 6 a 8 ocorrências a cada 12 horas em São Leopoldo. Até em abril deste ano, registraram-se 849 ocorrências, de onde partiram 323 medidas protetivas ativas e 64 prisões de agressores. Até o momento, o CRPO contabiliza mais de 1.200 visitas domiciliares cadastradas para acompanhamento de casos de negligência, falta de acesso à educação e outras violações de direitos.
Do registro ao acolhimento
A Major explicou que nem toda ocorrência vira medida protetiva — “a cada cinco registros, apenas uma gera proteção judicial”, disse. O tempo médio para uma vítima dar o primeiro passo no sistema de segurança chega a oito anos, refletindo barreiras emocionais e culturais. Em casos de abuso sexual, o processo envolve desde o registro de boletim de ocorrência até exames periciais, sempre com a patrulha Maria da Penha atuando em conjunto com serviços de saúde e assistência social.
Desafios culturais e geração futura
Para Bibiana, a raiz do problema está enraizada em comportamentos milenares de dominação masculina. “Precisamos trabalhar a psique masculina desde a escola, discutindo o que é violência e respeito”, defendeu. A faixa etária mais afetada — agressores e vítimas entre 20 e 35 anos — mostra que a prevenção deve mirar jovens adultos. “Se uma relação não serve, não agrida — e ensinar isso cedo pode evitar que futuros agressores reproduzam esse ciclo.”
Alguns dados
No Rio Grande do Sul, até abril de 2025 foram contabilizadas 11.057 ameaças, 6.774 lesões corporais, 691 estupros, 99 tentativas de feminicídio e 27 feminicídios consumados — um total de 18.648 ocorrências de violência de gênero .