O Dia Internacional de Brincar, que será celebrado nesta quarta-feira (28), foi a pauta central do programa Sala das Professoras desta segunda. Estiveram presentes no estúdio da Berlina a diretora e professora da EMEI Amor Perfeito, Fernanda Garcia, e a professora Kelly Trennepohl.
Em destaque, a importância do brincar no desenvolvimento infantil com atividades que estimularam criatividade, sociabilidade e inclusão. Fundada há 43 anos no Rio Branco, a EMEI Amor Perfeito atende 130 crianças entre entre 0 e 5 anos (incluindo 23 bebês no berçário) , apoiada por 60 profissionais. Direção e corpo docente celebraram o direito de brincar como previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente, oferecendo oficinas de jogos simbólicos, circuitos de corrida e modelagem lúdica.
Brincadeira com propósito
As convidadas refletiram sobre o papel da brincadeira no desenvolvimento das crianças, como um componente básico e primordial de suas formações. “É a partir da brincadeira que a criança aprende sobre o mundo e seus contextos”, explicou Fernanda, diretora da EMEI. A professora Kelly seguiu o mesmo tom: “Mesmo que não se lembrem de nós, mães e pais reconhecem o impacto desses momentos na formação dos pequenos. Nosso espaço é rico em trocas, e cada brincadeira carrega intenção pedagógica.”
Lidando com os celulares
Desde 2000 atuando na rede escolar municipal, como uma das primeiras concursadas do magistério, Fernanda destacou que um dos principais desafios atuais é lidar com a questão das “telas”, ou seja, o uso massivo de celulares e dispositivos usados para entreter os pequenos.
“Hoje, bebês simulam telas de celular nos brinquedos — algo impensável em 2000. Por isso evitamos telas na escola e usamos apenas a ‘TV itinerante’ com fins pedagógicos”, explicou.
A professora Kelly destacou a faixa dos 4 anos como sendo uma das que mais passam por transformações de personalidade e padrões de comportamento: “Eles assumem papéis de adultos em suas brincadeiras, aprendem a lidar com perda e derrota. Nosso papel é mediar esses conflitos com jogos que trazem lições para a vida toda.”

Diversidade em ação e enchentes
A EMEI valoriza brinquedos que incentivam narrativas próprias: blocos naturais e embalagens rendem mais criatividade que equipamentos pré-programados. “Uma criança atendeu o ‘telefone-banana’ de forma espontânea durante a hora do lance, e outra respondeu, criando um diálogo divertido”, relembrou Fernanda, ao destacar que os brinquedos modernos muitas vezes possuem tecnologias que não estimulam a criatividade e narrativas próprias para as crianças.
No contexto das enchentes de 2024, educadores notaram que as crianças transformaram traumas em “brincadeiras de enchente”, revelando como o brincar reflete seu mundo interior. “Ao retornar após o ocorrido, as crianças brincavam de simulação de enchente. Mergulhavam brinquedos, simulavam evacuação de casas. E nestas ocasiões é importante os adultos acompanharem e observarem: a criança é muito perceptiva. Os pais acham ela não observa certas coisas, e ela está absorvendo tudo à sua volta e traz isso para o dia a dia escolar”, frisou.
Autismo e acolhimento
Como psicopedagoga, Fernanda enfatizou o papel do professor na inclusão e desafios frente a diagnósticos de saúde mental, especialmente no espectro do autismo. Como psicopedagoga, Fernanda salienta que o papel do professor é fundamental no desenvolvimento pedagógico e na inclusão, mas também na relação com as famílias que passam por estas situações.
“Especialmente aquelas onde há negação do autismo, que é uma situação natural. Pois há uma expectativa sobre este filho para que ela seja uma criança normal, e a família transfere para ela estas projeções e expectativas, e quando estas não são atendidas, causam inconformidades”, indica.
A diretora finaliza ressaltando a grande responsabilidade que a escola tem, no diagnóstico precoce desta condição. “Participamos de processos de investigação, e para nós é muito delicado termos que chamar os pais para dar devolutivas desta natureza. É de uma responsabilidade gigante. Quanto mais cedo a criança receber o diagnóstico adequado, mais cedo é possível trabalhar as ferramentas para o seu desenvolvimento”, apontou.
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