Um grupo voltado a dar escuta ativa e momentos de reflexão a homens acusados de violência doméstica, com foco na sua recondução ao convívio sadio em sociedade, enriquecendo seus relacionamentos amorosos. Esta foi a pauta do programa Berlinda Entrevista da manhã desta quarta-feira, 28, onde foi debatido o Grupo Reflexivo de Gênero (GRG) do Centro de Referência no Atendimento à Mulher (CRAM), programa realizado pela Prefeitura de Sapiranga, que reúne homens autores de violência em encontros semanais.
Os entrevistados foram Silvia Cristina Maciel, assistente social e coordenadora do CRAM, e o comissário Pinto Antônio, da Polícia Civil, que detalharam a metodologia e objetivos do programa, relatando vários casos de sucesso entre homens tipicamente violentos, a rede de apoio construída e construção de dispositivos que vieram dar suporte às leis de proteção das mulheres.
Origem e objetivo do GRG
Silvia explica como o grupo nasceu da necessidade de acolher também os agressores, oferecendo escuta ativa e reeducação para um retorno seguro à sociedade, seja em seus atuais relacionamentos ou em novos. “Nos encontros que organizávamos para as mulheres, com o intuito de discutir a violência praticada em suas casas, notamos que os homens também queriam ser ouvidos, mas não tinham espaço. Quando a comarca local nos ofereceu o curso, soubemos que seria uma grande oportunidade de remediar isso, promovendo soluções efetivas”, contou.
Metodologias e dinâmicas
Pinto destaca que, além de apresentar a Lei Maria da Penha, o GRG usa dinâmicas que promovem reflexão sobre abusos morais, sexuais e psicológicos, áreas em que muitos participantes se reconhecem pela primeira vez, mas não admitem. “O Judiciário foi feliz ao criar esses grupos. Os homens chegam indignados por não terem sido ouvidos e, através de vídeos, músicas e debates, passam a avaliar e corrigir seus comportamentos”, aponta.
Perfis de agressores
Silvia e Pinto identificam dois perfis principais no GRG: homens imersos num machismo estrutural, responsáveis por parte das 53.000 ocorrências no RS em 2023 – dos mais variados crimes contra as mulheres – e aqueles que não reagem bem à rejeição e não superam o término da relação, incorrendo contra a vida da companheira.
“Neste mesmo recorte de 2023, 82% dos casos de feminicídios as mulheres não tinham medidas protetivas, por acreditarem na recuperação de seus companheiros. Muitos não têm consciência do próprio machismo e acreditam ter autonomia que a lei não lhes confere; entender isso é o primeiro passo para a mudança”, frisa o comissário.
Casos de sucesso e voluntários
Silvia ressalta que o encaminhamento dos grupos ocorre de forma obrigatória aos homens, através dos meios judiciais e medidas protetivas. Geralmente são seis encontros, que podem reunir dezenas de participantes. As transformações, de acordo com a assistente social, são visíveis e a adesão voluntária após término do curso é muito comum. “Já vi casais superarem o conflito e homens tão transformados que permanecem no grupo por escolha, não por intimação”, salienta.
Encaminhamento nas delegacias
Pinto defende que delegados e agentes passem a orientar automaticamente todo autor de violência doméstica a participar do GRG, unindo punição legal e processo de reabilitação. “Ao registrar a ocorrência, o policial deve informar o grupo reflexivo, combinando a medida protetiva da mulher com a reeducação do agressor”, avalia.
Prevenção entre jovens
Silvia também leva as reflexões às escolas, onde alunos frequentemente relatam situações de violência vividas em casa, reforçando a importância de inserir o tema desde cedo. “Na maior parte dos casos do GRG, a violência nasce na infância e adolescência. Homens que cresceram vendo estas cenas dentro de casa. E nestas palestras nas escolas, sempre aparecem relatos de violência partindo dos alunos. Discutir isso com os jovens é vital para interromper ciclos futuros”, finalizou.
Acompanhe o programa na íntegra: