De São Léo: Indiara Tainan se torna patrona da Feira do Livro de Nova Petrópolis

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A educadora, escritora e ativista Indiara Tainan foi anunciada como patrona da 28ª Feira do Livro de Nova Petrópolis, reconhecimento ao seu extenso trabalho pela igualdade racial e de gênero em São Leopoldo e região. Em conversa no Berlinda Entrevista, ela refletiu sobre sua trajetória na educação, a importância de resgatar legados negros na região e o significado de ocupar esse cargo pela primeira vez.

Educação, ativismo e escrita

Indiara é assessora técnica na Secretaria de Educação de São Leopoldo, pedagoga e mestranda em ProfHistória na UFRGS, com especialização em Educação Especial Inclusiva. Ela coordena a Rede Nacional de Mulheres Negras no Combate à Violência no Rio Grande do Sul e co-fundou o Coletivo de Profes Pretas. Entre suas obras estão o livro infantil “Passeando pelo Tempo com a Vó Nair” e, em junho, lançará “Diálogos Interétnicos: Ancestralidades em Resistência”.

“É preciso ter esse entendimento de comunidade, equidade e pensar no todo. Falhamos como humanidade ao valorizar sucesso e dinheiro isoladamente. Ver essa mensagem trabalhada nas escolas ajuda a formar cidadãos para uma sociedade mais desenvolvida”, explica Indiara.

Além de livros, ela integra coletâneas de poesias e apresenta o podcast “Diálogos Plurais”, espaço de discussões sobre raça, gênero e cultura.

Convite conduzido por 15 anos de dedicação

Sobre o convite para ser patrona em Nova Petrópolis, cidade com forte herança alemã e italiana, Indiara expressou emoção. “É fruto de uma semente que venho plantando há 15 anos na rede de educação do Vale do Sinos. Vim de Pelotas e, chegando em São Leopoldo como professora negra, despertei curiosidade — e amor — nas crianças. Esse convite representa reconhecimento de um trabalho coletivo que resgata narrativas negras adormecidas na região”, reflete

Superação de comentários negativos

Indiara declarou não alimentar pensamentos hostis sobre aceitar o convite do evento, em uma região reconhecida por ser colonizada por imigrantes alemães e italianos. “Em 15 anos, não penso na linha de quem não age com amor. Tudo o que conquistei foi pela mão estendida de outras pessoas. Sigo acreditando que minha missão é levar contação de histórias e valores às comunidades, e transformá-las por meio dessa conexão afetiva”, avalia.

Ela reforçou que o cargo de patrona reflete responsabilidade e “a chance de dividir experiências afetivas em uma cidade que se fortaleceu no resgate étnico-racial”.

Indiara Tainan considera que participação como patronese é a oportunidade de dividir e receber experiências junto à comunidade

Resgatando pertencimento e ancestralidade

Mudanças na vida pessoal também marcaram sua trajetória. “Morei em Canoas e sempre pensei que teria uma carreira voltada para Porto Alegre e região, mas minha ancestralidade me trouxe a São Leopoldo. É preciso entender de onde você vem para saber onde pertence. Após as enchentes de 2024 — que afetaram 70% da cidade —, vimos que, apesar das perdas, o apoio mútuo reconstruiu nosso senso de comunidade. E isso é pertencimento!”, disse.

Ao lembrar sua infância em Nova Petrópolis, Indiara contou pequenos gestos que fizeram diferença. “Cheguei de Pelotas com 4 anos e estudei em escola estadual. Ganhei bolsa em escola particular por ajuda de pessoas que me estenderam a mão. Haviam tênis furados e livros usados; as tias da escola me alimentavam para eu não ter que atravessar a cidade. Essas batalhas formaram meu caráter e me fazem valorizar a oportunidade de ser patrona”, comenta.

Reflexão sobre desigualdades

Indiara pediu cuidado com narrativas simplistas: “Falar que ‘a vida é dura para quem é mole’ ignora a realidade de quem enfrenta quatro horas de ônibus diárias ou precisa deixar filhos sem babá. A escravização de recursos como tempo, dinheiro e rede de apoio varia com raça e gênero. Por isso, a desigualdade não é só econômica, mas permeada por relações étnico-raciais.”

Confira o Berlinda Entrevista na íntegra: [embedyt] https://www.youtube.com/watch?v=Q76IdDEraHY[/embedyt]

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