Seguindo pela ronda da manha nesta quinta-feira, 20, durante o programa Tá na Hora, o repórter Juliano Palinha visitou outro ponto que inspira cuidados frente às cheias, que invariavelmente é tomado pelas águas durante as fortes chuvas: a Rua das Camélias no bairro Pinheiro, próxima da Avenida Imperatriz.
No local há um banhado ao final da rua, há cerca de um quilômetro do Rio do Sinos. Quando a água bate o ponto considerado a cota de inundação do rio – que é 4.5m – o volume do banhado sobe em razão da cheia do Sinos e o acúmulo de chuvas, fazendo com que água invada a via.
Durante a grande enchente de 2024, água invadiu a rua com força: passou pela Avenida Imperatriz e atingiu o bairro São José. Diante deste cenário, o trecho foi incluído nas obras de recuperação do PAC, que inclui dois projetos de construção de diques – um na Feitoria Nova e outro justamente nesta área de banhado do bairro Pinheiro.
30 anos lidando com o banhado
Os moradores do local também tem ampla experiência no assunto, e sabem bem quando a situação oferece riscos ou não. É o caso do comerciante Adão do Nascimento, que reside na rua há 30 anos e possui um estabelecimento comercial às margens do banhado.
Ele aponta que desta vez, apesar das severas chuvas dos últimos dias, o nível do banhado está dentro de uma margem de segurança. “Desde ontem, as 9 horas, subiu apenas 12cm. Pelas minhas medições, são necessários mais 15cm para esta água começar a chegar na rua”, alerta.

E essa leitura é própria do morador: de forma improvisada, uma trena feita com taquara foi instalada no leito do banhado, e é conferida pelo Seu Adão em cada turno do dia.
Ele divide sua experiência de 30 anos no local, apontando as situações que podem levar os moradores da área a enfrentar o volume das águas. “O que temos que observar aqui, são as bocas de lobo. Se elas não dão vazão, começa a inundação. Mas desta vez estou tranquilo, não acredito que teremos maiores problemas”, enfatiza.
Uma rotina voltada para as águas
Calejado pelas intempéries do clima, ele conta um pouco da sua rotina frente ao banhado, em períodos de fortes chuvas. “Quando sentimos que teremos problemas, iniciamos um mutirão dentro de casa para levantar os móveis“, enaltece o Seu Adão, que traz uma peculiaridade que somente a experiência de anos é capaz de proporcionar: “À noite acordo, vou até as bocas de lobo no fim da rua e observo: quando a água fecha os dois lados da via entre as saídas de escoamento, já sabemos que ela vai invadir a rua com algum perigo”, informa
Seu Adão, que confirma que na semana passada houve a limpeza destes mesmos bueiros por parte Prefeitura, informa que durante o período reside na localidade, em quatro oportunidades se deparou com enchentes. “Obviamente a maior de todas foi a de 2024. Lá eu perdi tudo de dentro de casa e ainda estamos recomeçando a vida. As demais foram mais amenas, mas não deixaram de trazer problemas estruturais”, aponta.
Em momentos como este, recorre a um enteado que reside no bairro Feitoria para ter onde se abrigar. Algo que nem todos os moradores do trecho tem a benefício de contar. De acordo com o morador, toda a área é devidamente regularizada e os impostos estão em dia, no entanto, a maior parte das casas do local está à venda. “O pessoal aqui tá cansado”, finaliza Seu Adão.

