Quando o professor e historiados Martin Dreher defende para 2024 a comemoração pelos “200 anos de imigração de falantes da língua alemã no Brasil” não se trata de criar polêmica. É uma provocação para conhecer a história da imigração alemã ou italiana, por exemplo, cuja pesquisa só foi permitida a partir de 1974 no Brasil, em plena ditadura militar por um descendente de alemão e outro de italiano, respectivamente presidente Geisel e governador Euclides Triches.
“Antes era tabu e quem tentava pesquisar era chamado de revanchista. Antropologicamente todos nós temos direito a saber das nossas raízes, mas isso significa lutar contra a cultura da padronização, esquecer quem somos para sermos brasileiros, senão seremos chamados de gringo polenteiro, alemão batata”disse Martin Dreher no Berlinda News Entrevista desta quarta-feira (23).
Pesquisador da imigração alemã reconhecido internacionalmente, o professor Martin traça a ordem cronológica do contexto mundial e de São Leopoldo antes de 1824, durante e até hoje para dizer que somos uma população plural, diversa, que a imigração dos povos faz parte da nossa realidade com características especificas de acordo com a época. “São Leopoldo é uma cidade plural , que cada um tem direito a conhecer as suas raízes e que cada um tem sua contribuição a dar.”
O que comemorar em 2024
“Temos a São Leopoldo Fest, que é a festa das etnias, mas não vejo porque não comemorarmos em 2024, os 200 anos de imigração de falantes da língua alemã e dizer que em 1824 começou um novo capítulo da nossa história regional e da história do Brasil. Começa um novo modelo agrícola para o país, primeiro produzindo para o mercado interno, para a nossa mesa e o excedente para exportação com a policultura, hoje a agricultura familiar. Antes disso, sob o domínio da coroa portuguesa, a produção era para as necessidades de Portugal e tudo era exportado.”
Quem estava aqui em 1824
“Em 1824 a população do RS oscilava entre 60 a 70 mil habitantes e aqui em São Leopoldo estavam os povos originários, guaranis, caingangues, resquício das populações dos Sete Povos das Missões, casais vindos de Açores, judeus cristianizados em Portugal. A população já era diversificada e no período entre 1824 e 1830 vieram cerca de 4 mil falantes da língua alemã aqui na região.”
Alemanha não existia
“Os falantes da língua alemã começam a chegar aqui em 1824 e a República Federal da Alemanha só é proclamada em 1871 após a invasão do império alemão naquela região. Por isso os falantes eram poloneses, romenos, suíços, judaicos que falavam o dialeto alemão entre outros”.
Alceu Colares
“Somos herdeiros de Vargas que em 1939 quis um Brasil de abrasileirados e proibiu o estudo da história dos imigrantes e de falar a língua dos imigrantes. Na minha infância, por exemplo, só após os 14 anos era possível ter língua estrangeiro no Brasil. Alceu Colares acaba com essa lei no RS permitindo estudar línguas estrangeiras desde os primeiros passos.”
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