Na manhã desta terça-feira (4), o programa Berlinda News Entrevista recebeu o professor Fernando Spilki, pró-reitor de pesquisa, pós-graduação e extensão da Universidade Feevale e membro da Sociedade Brasileira de Virologia. Durante a entrevista, Spilki abordou os impactos das mudanças climáticas na disseminação de doenças e o surgimento de novas enfermidades.
Mudanças climáticas e novas epidemias
De acordo com o especialista, fenômenos previstos para ocorrer apenas em 2050 já estão sendo observados atualmente. “O que imaginávamos para 2050 está acontecendo agora”, afirmou. Ele destacou que 80% das doenças infecciosas que atingem a espécie humana são derivadas de outros animais e que o desequilíbrio ambiental tem papel fundamental no surgimento de novas epidemias. “Quando destruímos os ecossistemas, outras espécies precisam se adaptar para sobreviver, e isso gera desequilíbrios que acabam trazendo novas doenças para os seres humanos.”
Um dos exemplos citados por Spilki foi o avanço do Aedes aegypti no Rio Grande do Sul. “Há 20 anos, o mosquito estava presente em apenas quatro ou cinco cidades do estado. Hoje, já está em 470 municípios. Além disso, o aumento das temperaturas médias favorece a replicação do vírus da dengue, tornando a transmissão mais eficiente. Até alguns anos atrás, não tínhamos um ambiente propício para isso, mas em 2023 tivemos 28 dias seguidos com temperaturas médias acima de 29°C por mais de 80% do dia, o que resultou em uma epidemia de grandes proporções.” Segundo ele, embora janeiro deste ano tenha sido menos crítico, os casos ainda representam 10% do total registrado no mesmo período de 2023.
Covid-19 e evolução do vírus
Sobre a Covid-19, Spilki afirmou que a doença segue sendo monitorada, mas que sua recorrência ao longo dos anos tem permitido um convívio mais controlado. “Ainda observamos casos graves, especialmente em pessoas não vacinadas ou em idosos com a vacinação atrasada. No entanto, o vírus também evolui para formas mais brandas, o que reduz sua letalidade.”
Alerta para a gripe H5N1
O professor demonstrou preocupação com o crescimento dos casos de gripe aviária H5N1, que tem avançado nos Estados Unidos e já apresenta mutações que facilitam sua adaptação aos seres humanos. “O vírus vinha se disseminando de forma intensa no final do ano passado e foi identificado até mesmo em amostras de esgoto, o que indica circulação entre pessoas. Essas mutações podem ser o estopim de uma nova pandemia.”