Na manhã desta sexta-feira (24), o programa Berlinda News Entrevista recebeu a Major Bibiana Menezes, chefe da Seção de Logística e Patrimônio da Brigada Militar no Vale do Sinos. O tema central da entrevista foram os alarmantes dados divulgados pela Polícia Civil sobre violência doméstica e feminicídios.
São Leopoldo ocupa a segunda posição no ranking estadual de feminicídios em 2024, com quatro casos registrados, atrás apenas de Porto Alegre, que teve oito ocorrências. Apesar da redução geral no número de feminicídios no estado, o município apresenta um aumento preocupante.
A complexidade da violência doméstica
“A violência doméstica não se resume a números. É um problema complexo, que começa muito antes do feminicídio. Em cerca de 70% dos casos, as vítimas não tinham boletins de ocorrência contra os agressores. Precisamos entender essa dinâmica, porque o feminicídio não acontece do nada”, explicou a Major Bibiana.
A oficial destacou que a violência doméstica vai além da agressão física: “Ela está na falta de cordialidade, na invasão de privacidade, na manipulação, na violência patrimonial e psicológica. É essencial trabalhar o emocional e a autoestima dessas mulheres para que elas consigam romper esse ciclo.”
Medidas protetivas e seus desafios
Bibiana também enfatizou a importância das medidas protetivas como instrumento de segurança para as vítimas. “Quando uma mulher solicita uma medida protetiva, ela está afirmando que precisa do agressor longe para preservar a própria vida. O problema surge quando a medida é retirada, pois o agressor pode interpretar isso como um sinal de impunidade. Das quatro vítimas de feminicídio em São Leopoldo no último ano, nenhuma tinha uma medida protetiva ativa.”
Ela reforçou que essas medidas podem ser solicitadas contra diversos agressores, sejam companheiros, parentes, colegas de trabalho ou vizinhos, e pediu maior conscientização sobre sua eficácia.
Preparo da Brigada Militar
A Major destacou ainda o impacto emocional e o alto risco das ocorrências de violência doméstica para os policiais. “Nenhum brigadiano entra na corporação pensando em atender esse tipo de ocorrência, mas elas estão entre as principais demandas da Brigada Militar. É por isso que o preparo técnico e emocional dos policiais é fundamental, especialmente porque lidamos com situações em que as pessoas estão transtornadas.”
Ela citou o recente caso de Novo Hamburgo, que começou como uma denúncia de maus-tratos a idosos e escalou para um incidente de grande gravidade, como exemplo da complexidade dessas intervenções.
Educação e respeito: as bases para combater a violência doméstica
Para Bibiana, a raiz do problema está na falta de respeito mútuo. “Se cultivássemos o respeito, a violência doméstica não existiria. Casamento não é uma foto feliz no Instagram; é uma construção diária, que exige conversa e compreensão. Cada indivíduo traz vivências únicas para um relacionamento, e é essencial entender isso.”
A Major finalizou a entrevista destacando a importância da educação, do respeito e da conscientização como ferramentas para combater a violência doméstica e construir uma sociedade mais justa e segura.