POR CÍNTIA MACIEL: “A vida tem o sabor de quem a tempera.”

4 de dezembro de 2024 - 09:05
Por Cíntia Maciel

Ontem conheci uma linda história de superação. História essa que me fez refletir acerca de mim mesma e do modo como me coloco e me comporto diante de algumas situações.

Pois bem! Estive na Biblioteca Pública do Estado para participar de um evento em que a pauta era Filantropia comunitária. Antes de iniciarem os painéis, fomos convidados a degustar um delicioso Coffee Break preparado pelo “chef Roque Paiva”.

Junto dessa informação também me foi dito que o chef era egresso da Fundação O Pão dos Pobres. O comentário se deu em função de termos uma oficina de padaria no Centro Medianeira, e a pessoa achou importante fazer o link com essa história.

Como curiosa que sou, pedi para conversar com o jovem chef, e de certa forma, apresentar a ele nossa instituição.

Ele gentilmente me atendeu e contou-me sua relação com “O Pão dos Pobres”, a gastronomia e a profissão que hoje tem.

Confesso: quanto mais ele falava, mais eu compreendia que nosso trabalho, assim como o de tantas outras instituições, é fundamental para “virar a chave” na vida de alguém.

Eu perguntei a ele como “tinha ido parar naquela instituição”, e sua resposta me sensibilizou sobremaneira.
-Eu morava na “Ilha” e era catador de lixo. Um dia, uma emissora de TV foi até lá para gravar uma entrevista. Só que ninguém queria falar… disseram que dariam uma cesta básica para quem participasse. Então, eu falei. Disse ao repórter que queria fazer Gastronomia. E esse vídeo chegou até “O Pão dos Pobres.” Eles vieram atrás de mim, na Ilha, acredita?

Acredito, sim. Sua fome, naquele momento, ia além da fome física. Era a fome por uma vida melhor – respondi. E ele continuou:

-Lá me ofereceram os cursos para que eu me preparasse para encarar o mundo do trabalho. Depois, fiz Gastronomia e hoje trabalho no “Malga”, como confeiteiro.

Mais uma vez, fiquei pensativa diante de sua história… seguiu falando de suas experiências profissionais e sobre a enchente também. Como ficou alguns dias impossibilitado de trabalhar, decidiu voluntariar-se como cozinheiro em uma instituição. A ideia inicial era ser um auxiliar. Mas ao chegar lá, foi pego de surpresa e assumiu tudo sozinho, durante 40 dias, aproximadamente.

Essa experiência fez com que superasse seus medos e “girasse a chave” mais uma vez.

Embora o ano de 2024 tenha sido de tristeza e dor em relação à morte do avô, Roque diz que tem sido um ano de superação: atualmente mora sozinho, está se organizando para adquirir seu carro e a carteira de habilitação.

Quando questionado como se sente diante de tudo o que passou, ele menciona que não foi fácil chegar até aqui, pois sofreu preconceitos diversos e precisou se esforçar em dobro para provar seu potencial.

E mesmo assim não desistiu de si. Acreditou que atingiria seus objetivos e que todos os dias, ao entrar em seu ambiente de trabalho, ele carrega seu coração de boas energias e, além de pensar no alimento que vai preparar, pensa, principalmente, em quem vai recebê-lo. Ama o que faz. Cozinha com amor!

Diante de tudo o que ouvi nessa conversa, aprendi cinco coisas:

1. Que nossa vida pode ser transformada se nos permitirmos que aconteça;
2. Acreditar que nossos sonhos podem se tornar realidade;
3. Renascer a partir dos desafios diários;
4. Porta nenhuma estará fechada se tivermos noção da chave certa;
5. “A vida tem o sabor de quem a tempera.”

Em meio à conversa, Roque me confidenciou que não gosta de escrever; eu, obviamente disse que escrever é minha paixão. Brinquei que faríamos uma parceria: ele contaria sua história e eu a escreveria para compartilhar com as pessoas.

Assim como um alimento bem preparado e temperado é capaz de nutrir o corpo; as palavras ditas na hora, no lugar e às pessoas certas, têm o poder de nutrir a alma.

Cíntia Maciel – Graduada em Letras, Pós-Graduada em Neuropsicopedagogia, Supervisão Escolar, Docência no Ensino Superior, Atendimento Educacional Especializado, Atendimento Educacional Especializado com Ênfase em Autismo, Gestão de projetos sociais e membro da Academia de Letras do Brasil Seccional Rio Grande do Sul.

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Comentários

Celso Ferruda

Bom dia, Professora Cintia!
Bom dia caros leitores!…
Como podemos ver o relato da Professora, é emocionante. Sempre há quem faz uso do preconceito em todo lugar, parecendo ter gosto ver alguém sendo massacrado de alguma forma, e sobressai-se aquele que diz:”vou vencer – é isso que eu quero!” Roque, foi um destes batalhadores que não se contentou com a vida que levava e foi além. E nós como ele, também devemos estar em alerta e observar certos sinais, os “nãos ” de certas pessoas podem siguinificar a busca de uma nova chave e ver um horizonte amplo diante aos nossos olhos.
Parabéns Professora Cintia. por nos trazer esta bela lição de vida. Abraços!!

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