Milhares de estudantes brasileiros que foram morar na Argentina em busca do sonho de cursar faculdade de medicina a um custo razoável foram pegos de surpresa por aumentos acima da inflação anunciados pelo governo Milei. Alguns são estudantes da faculdade privada mais procurada pelos brasileiros no país vizinho e que agora interrompem o sonho e voltam para o Brasil, outros recomeçam os estudos no Paraguai
Segundo um relatório do Ministério do Capital Humano da Argentina, com base nos números mais atualizados disponíveis de 2022, existem 20.255 estudantes brasileiros de medicina no país, dos quais 12.131 estão matriculados no sistema público de educação. Dos restantes 8.124, cerca de 6 mil estão na universidade Barceló, onde os brasileiros ocupam 75% das vagas, segundo o centro de estudantes da faculdade.
Numa das três sedes da universidade, a situada em Santo Tomé, na fronteira com a cidade gaúcha de São Borja, a Barceló já cobra 25% a mais se o estudante for de nacionalidade brasileira. Letícia Rauter, 25 anos, de São Leopoldo, e Isabela Barbosa Riccordi, de Santa Cruz do Sul, estão há dois anos cursando Medicina na Fundación Barceló em Santo Tomé, em Corrientes, fronteira com São Borja. Elas dizem que o aumento da mensalidade é um dos produtos do combo. O custo de vida está muito caro.
Inflação
“Na realidade, tem vários cenários. O que o Milei realmente tem “culpa” que está fazendo muitos brasileiros irem embora é a inflação sobre os preços em geral. Mercado, aluguel, luz, água, tudo ficou caríssimo de uma hora pra outra, duplicou, triplicou, porque ele tirou os subsídios. Se antes pagávamos 50 reais de luz, agora estamos pagando entre 150 a 200 reais. O peso argentino valorizou e o real desvalorizou. Antes, a nossa cotação de real pra peso acompanhava a inflação, então mesmo com tudo subindo de valor, sempre acabávamos pagando o mesmo valor em real. Desde o início desse ano, nossa cotação estagnou e depois começou a baixar, então além de tudo ficar mais caro em pesos, também ficou mais caro ainda em real”, conta Letícia.
Retirou subsídios
“Sobre os valores de faculdade, os valores tendem a cada semestre, de acordo com a inflação. A minha também era assim, porém a mais barata da Argentina. Enquanto outras faculdades particulares de medicina cobram de 2 a 4 mil reais, nós pagávamos 500/600 reais, porque sendo Fundación Barceló tinha subsídio do governo, que o presidente Milei assumiu e retirou. Agora as mensalidades estão em 2 mil reais e estamos totalmente sem previsão de quanto vamos pagar a cada mês, porque os aumentos são mensais. Pra quem entrou com um orçamento de 500 reais, pagar acima de 2 mil fica muito complicado, sem contar com todos os aumentos das coisas básicas”.
Paraguai
“Estamos pesquisando bastante os valores no Paraguai, em média R$ 1,5 mil, mas a vantagem é que tem estabilidade de valores e as estruturas das faculdades são absurdamente melhores”, diz Letícia que irá para o 5º semestre.
Saiba mais
O índice de preços ao consumidor desde janeiro deste ano é 106,98% e deve fechar o ano abaixo de 120%, mas os aumentos na Barceló quase triplicaram essa cifra (325%);
Este ano a moeda argentina foi a que mais se valorizou no mundo. E o custo de vida para os estudantes brasileiros mais do que triplicou em reais;
Apesar da inflação acumulada desde dezembro, quando o governo do presidente Javier Milei começou, ter atingido 160%, o valor do dólar financeiro (usado pelos brasileiros) é apenas 7% maior, quando comparado com o de dezembro de 2023;
Na contramão, em 2024, o real se desvalorizou 19,2% e o dólar aumentou 23,7% no Brasil, tocando os 6 reais;
Essa equação de peso argentino valorizado e de real desvalorizado atinge o poder aquisitivo dos brasileiros que recebem a ajuda da família no Brasil
Os brasileiros decidiram estudar na Argentina por três motivos principais:
1) no país não existe vestibular, basta se matricular;
2) o ensino é de qualidade;
3) o custo de vida era baixo até o ano passado.
Entretanto, este ano a moeda argentina foi a que mais se valorizou no mundo. E o custo de vida para os estudantes brasileiros mais do que triplicou em reais
Fonte: https://noticias.uol.com.br/