O governo de Israel aprovou nesta terça (26) um cessar-fogo estimado em pelo menos dois meses com o grupo libanês Hezbollah mediado pelo governo dos Estados Unidos. O fez com a mão no gatilho, e meio a alguns dos mais intensos ataques ao Líbano no conflito, que deixaram ao menos 23 mortos no vizinho.
“Estamos prontos para devolver nossos cidadãos [deslocados pela guerra] para o norte”, disse o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu em pronunciamento na TV. Ele prometeu voltar ao ataque se o Hezbollah o violar. “Nós vamos reagir.”
Ele afirmou que vai direcionar forças à questão da “ameaça do Irã” e disse que o cessar-fogo é necessário para reforçar suas tropas com armamentos, após mais de um ano de conflito em várias fontes. É uma rara admissão de dificuldade militar na campanha.
É a segunda trégua aceita pelo gabinete de segurança do premiê desde que os terroristas palestinos do Hamas lançaram o ataque de 7 de outubro de 2023, que disparou a guerra regional ora em curso também no vizinho ao norte.
O escopo do momento é outro. O Hezbollah é aliado do Hamas e passou a atacar Israel enquanto os palestinos eram bombardeados na Faixa de Gaza, que controlavam desde 2007. Ambos os grupos são prepostos do Irã, e os libaneses sempre foram os mais fortes aliados de Teerã na região.
Na TV, Netanyahu falou sobre as vitórias militares desde então, inclusive enfrentando os iranianos. Ameaçou outro aliado da teocracia, a ditadura da Síria, que, segundo ele, “está brincando com fogo” ao permitir que grupos baseados no país ataquem Israel.
Segundo o premiê, o Parlamento israelense deverá aprovar o plano ainda nesta terça. O premiê libanês, Najib Mikati, pediu ajuda internacional para a implementação imediata do acordo.
A partir de 23 de setembro deste ano, após dias de ataques ousados de Tel Aviv incluindo pagers-bomba, o que eram escaramuças fronteiriças diárias virou uma guerra, com Israel decretando ter perdido a paciência com o rival do norte. Bombardeios intensos mataram boa parte da liderança do Hezbollah, inclusive seu chefe, Hassan Nasrallah.
O sul libanês voltou a ser invadido por Israel, 24 anos depois de Tel Aviv ter deixado a custosa ocupação da região. O fracasso de Beirute em militarizar a área e impedir a volta do controle do Hezbollah foi um dos pontos que pesou na crise atual.
O plano é complexo, porque as duas guerras, em Gaza e no Líbano, estão interligadas. O Hezbollah, destroçado como seu aliado Hamas, cedeu e aceitou parar seus ataques em apoio ao grupo palestino durante a trégua, até para poder se reagrupar e contabilizar o estrago —Netanyahu falou em 80% de destruição de sua capacidade ofensiva.
Para o premiê israelense, se prosperar, a trégua dá um respiro em uma campanha militar de alto custo, que colocou o país em rota de colisão direta com o Irã, patrono dos rivais. Tel Aviv e Teerã já trocaram quatro salvas de ataques com mísseis desde abril, algo que nunca havia acontecido na história, mas parecem ter recuado por ora.
O prazo de 60 dias enseja mais negociações, e é aqui que ficam as principais dúvidas. A França, com forte influência no Líbano pelo mandato colonial que exerceu por lá de 1920 a 1943, participou da negociação. A expectativa é de que haja um comunicado conjunto dos presidentes Joe Biden e Emmanuel Macron.
Por Folha de São Paulo