Uma praça centenária no Centro de São Leopoldo está em obras. A Prefeitura, em comemoração aos 200 anos de São Leopoldo e alusivo ao Bicentenário da Imigração Alemã, autorizou o início da revitalização da Praça do Imigrante. O Consórcio São Leopoldo, grupo de três empresas responsáveis pelas obras de modernização da rua Independência, está realizando os trabalhos concomitantemente à via pública. Situada entre a avenida Dom João Becker e a Rua Grande, todo o complexo da praça será restaurado.
O Consórcio começou pela colocação do calçamento em pavs no trecho entre a praça e a Câmara de Vereadores, que já foi finalizado. Também estão sendo retiradas as pedras portuguesas do entorno do equipamento público e recolocadas por uma equipe de calceteiros. Antes da remoção das pedras, o Consórcio fez um levantamento por georreferenciamento, com a finalidade de definir a localização correta do pavimento em mosaico composto de simbologia maçônica nas calçadas. Outra ação será a limpeza do monumento no centro da Praça do Imigrante, a revitalização do passeio próximo ao dique com a colocação de calçamento em pavs. A praça também ganhará mais bancos em seu mobiliário e nova iluminação. A obra de restauro deve seguir pelos próximos 90 dias.
Na tarde desta quinta-feira, dia 18 de abril, o prefeito Ary Vanazzi e uma comitiva de membros do Comitê do Bicentenário da Imigração Alemã e da administração municipal, estiveram acompanhando os trabalhos realizados na revitalização do equipamento público. Vanazzi revelou que pretende criar um espaço de convívio para aproximar a comunidade com o Rio dos Sinos. “Estamos fazendo somente a metade do projeto. A outra metade do projeto que pretendemos fazer é um deck entre o dique até próximo a Ponte 25 de Julho, onde terá bares e restaurantes em uma parceria público-privada. A beleza da praça será a revitalização, mas o deck terá a importância para contemplar o Rio dos Sinos, então poderemos fazer shows e espetáculos. Essa parte será licitada e a gente espera fazer isso ainda no segundo semestre deste ano para terminar em 2025”, disse o prefeito Vanazzi.
História da Praça do Imigrante ou Praça Centenário
Segundo o historiador e coordenador do Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura e Relações Internacionais (Secult), Márcio Linck, o projeto embrionário da atual Praça do Imigrante teve início por volta de 1830, quando o diretor da então Colônia de São Leopoldo, José Thomas de Lima, definiu que aquele espaço seria uma área de lazer. “A planta piloto do topógrafo Miguel Gonçalves dos Santos previa que toda aquela extensão entre onde hoje é a praça em direção a rodoviária seria um espaço único. Porém, não existia a Ponte 25 de Julho sobre o Rio dos Sinos, que foi construída entre 1871 a 1875, aliás é o primeiro bem tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do RS em 1980, então a construção da ponte acabou dividindo ao meio o espaço destinado para ser um complexo único da praça”, explica Márcio.
O local da Praça do Imigrante e seu entorno foi por muito tempo o ponto principal (ou central) de comércio e de escoamento daquilo que era produzido na colônia, pois ali ficava a passagem formada pelos bancos de areia em época de águas rasas, que permitia a travessia a pé de uma margem à outra do Rio dos Sinos. Essa passagem deu origem ao nome Rua do Passo, primeiro nome da atual rua Independência. “Nesse ponto também havia os vivandeiros (ambulantes da época) que comercializam víveres que a colônia não produzia. Esse “cais” às margens do Rio dos Sinos era o ponto de partida para o escoamento e recebimento (ou transporte) das mercadorias que abasteciam a colônia e a capital Porto Alegre”, sustenta o historiador Márcio Linck.
Para marcar o Centenário da Imigração Alemã em 1924 foi construído um monumento inacabado de pedra, onde hoje consta a inscrição em relevo “Den Vätern Zum Gedächtnis”, que significa em tradução literal “Em memória dos nossos antepassados”. A praça recebeu então a denominação de Praça Centenário.
Somente em 1927, a Praça do Imigrante começa a ganhar os contornos de hoje. O Intendente (prefeito) João Corrêa decidiu dragar o Rio dos Sinos e fazer o aterramento no entorno da Praça do Imigrante. Foram colocados 17.600 metros cúbicos de areia para dentro da praça. “Os trabalhos foram concluídos em 1933 e a praça inaugurada em 1934 pelo Intendente Theodomiro Porto da Fonseca. Ela também tem traços no estilo francês. Neste mesmo ano junto com a inauguração da praça, o município realizou duas grandes obras: a faixa de cimento, considerada a segunda do Brasil, que se estendia de São Leopoldo passando por onde hoje é o Horto Florestal até Porto Alegre, e a grande feira de expositores da indústria alemã em comemoração aos 110 anos”, revela o professor Márcio Linck.
Tombamento da Praça do Imigrante
Em junho de 2021, o prefeito Ary Vanazzi assinou o documento que pede o tombamento da Praça do Imigrante junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O texto foi criado por um movimento, organizado pela Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Tecnologia de São Leopoldo (ACIST-SL). A iniciativa coletou ainda assinaturas de empresas e entidades da sociedade civil. De acordo com o historiador e coordenador do Patrimônio Histórico da Secult, Márcio Linck, o processo ainda segue em trâmite no IPHAN e se aprovado será o primeiro bem material tombado do município a ser reconhecido em nível nacional.
Lei de 2022 preserva patrimônio material
O patrimônio cultural material de São Leopoldo está amparado pela lei municipal 9.750, sancionada pelo prefeito Ary Vanazzi. Este instrumento institui normas de proteção e estímulo à sua preservação. Além de constituir, categorizar, listar os bens que compõem o inventário e a Área Especial de Interesse Cultural (AEIC), a lei prevê os incentivos e isenções, como a redução do IPTU e o índice construtivo, para que os proprietários dos imóveis possam preservá-los. A legislação determina o grau de proteção, assim como meios de fiscalização e penalidades para o descumprimento das normas. A lei também estabelece regras para padronização visual de anúncios nas fachadas, entre outras determinações. A aprovação da lei ocorreu em duas votações em dezembro de 2022 e foi publicada no Diário Oficial do Município no dia 14 de fevereiro de 2023.
A lei constitui como patrimônio material de natureza histórico-cultural do município os seguintes bens móveis e imóveis existentes cuja conservação seja de interesse público: edificações, ruínas, conjuntos urbanísticos e paisagísticos, monumentos, afrescos, coleções de determinado acervo, obras de arte e o espólio da antiga rede ferroviária brasileira. A lei protege 265 imóveis e 7 monumentos e praças, dentre eles estão a Praça Daltro Filho (conhecida Praça dos Brinquedos), Museu do Trem, Praça 20 de Setembro (conhecida Praça da Biblioteca), Praça do Imigrante e Ponte 25 de Julho.