Escritores e educadores de São Leopoldo debatem literatura local na Feira do Livro

25 de setembro de 2023 - 18:00

A literatura local é universal? Com esse questionamento, escritores e educadores leopoldenses realizaram um debate na noite de domingo, dia 24, na 37ª Feira do Livro Ramiro Frota Barcelos. O universo da periferia e a descentralização da cultura nos espaços públicos também norteou o encontro. Os participantes trocaram experiências e como a literatura mudou a vida deles e como ela e outras formas de arte podem transformar comunidades da periferia; ajudar na formação de leitores e fomentar à cultura local.

Para a professora aposentada de Língua Portuguesa, Elvira Coelho Hoffmann, a literatura local é sim, universal, no momento em que ela toca o interior das pessoas. “Nós somos feitos de emoção e sensibilidade, e a sensibilidade e a emoção nascem em um território para se expandir para outro”, enfatiza a professora.

Eduardo Tamborero, integrante do Coletivo Preconceito Zero, que se originou a partir de um grupo de rap de São Leopoldo, pondera sobre a universalidade da literatura, desde que ela seja mais democrática e inclusiva nos territórios periféricos. Ele destaca a importância dos escritores de periferia no trabalho de levar a literatura às comunidades. “A ideia dos escritores e literatos é a de que a literatura seja um espaço de construção cidadã, a gente faz com que a periferia se entenda enquanto sujeito daquele local e que aquelas ideias literárias possam se transformar a partir de ideias positivas e propositivas”, afirma Tamborero, que está por lançar o livro “Vidas Curtas”, sobre a violência nas periferias, em parceria com o escritor Elson Cascata.

CAPITALISMO

O professor, jornalista e escritor Elenilto Saldanha Damasceno diz que escreveu um artigo no começo do ano, justamente sobre o tema proposto no encontro, tratando da universalidade da literatura em um determinado espaço local. “O teórico Franco Moretti avalia o quadro da literatura como um sistema. Eu me alinho com o que ele fala, porque tem um aspecto de poder no âmbito da cultura nesse sistema. Ele compara a literatura com o capitalismo. O capitalismo se expande, ele é globalizante, mas ele é desigual. Em cada região, ele vai se adaptar de uma maneira, e a literatura também, ela parte de um centro hegemônico, cultural que acaba interferindo na produção nas outras regiões. Ou seja, o Brasil não é diferente e acaba absorvendo esse modelo de produção literária”, reflete Damasceno, que deve lançar seu primeiro livro intitulado “Curta Ficção” na sexta-feira, na Feira do Livro.

O escritor leopoldense Elson Cascata, autor do livro “OcupAção”, também concorda que a literatura local é universal. “Porque aqui tem várias histórias sendo contadas diariamente que o mesmo capilé que está sentindo esta história vai ser o mesmo carioca ouvindo ela, talvez com um dialeto ou uma fala diferente. O ser humano é o ser humano em todos os lugares, é o mesmo processo. Então a nossa escrita só é local quando está na nossa cabeça, saiu da nossa cabeça e foi para o papel, ela se torna mundial”, reforça. O escritor relembra que a literatura se tornou muito cara para si no começo. “Ela salvou minha vida, porque venho do movimento rap dos anos 90, que é um movimento de contar história, relatar histórias, porque a periferia era mostrada pelo lado negativo, o lado da violência, da drogadição, das mortes e do crime. A literatura fez com que a gente mostrasse o outro lado da nossa vida, que a gente tem sorriso no rosto, que acorda cinco horas da manhã para ir trabalhar, essa é a resistência”, defende Cascata.

A 37ª Feira do Livro Ramiro Frota Barcelos tem como tema “Uma cidade viva conta suas histórias. Rumo ao Bicentenário”. A programação segue todos os dias, das 8h às 21h, até 1º de outubro com atrações literárias, música, teatro e dança para públicos diversos de todas as idades. O evento é uma realização da Prefeitura de São Leopoldo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Relações Internacionais (Secult) e da Secretaria Municipal de Educação e, co-realização do Sesc-Fecomércio São Leopoldo e apoio do Sicredi e do Semae.

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