POR ELENILTO DAMASCENO: O tempo do discurso ou da narração literária

23 de maio de 2023 - 08:08
Por Elenilto Saldanha Damasceno é Professor, escritor e jornalista

A narração literária é um tipo de enunciação que cria sua própria referência temporal. Além do tempo representado no enunciado narrado, o tempo da história ou da narrativa*, a narração literária configura representações temporais além dos limites cronológicos, as quais só existem durante a própria enunciação: o tempo do discurso.

O tempo do discurso é o tempo “vivido” na narração. Enquanto o tempo da história ou da narrativa se refere à sequência de episódios presentes no enunciado, o tempo do discurso se estabelece a partir de recursos composicionais. De acordo com os estudiosos Roland Bourneuf, francês, e Réal Ouellet, canadense, críticos literários, professores e psicólogos, o tempo do discurso controla o tempo da história “em favor da duração existencial do narrador”, o qual é a representação de um sujeito falante que organiza e comanda a atividade discursiva.

Na construção do tempo do discurso, o narrador estabelece e controla a duração e a velocidade da história ou narrativa por meio de variados recursos.

A cena, por exemplo, estabelece a simultaneidade de tempo. Se o narrador respeita as dimensões do tempo na narrativa e propõe uma velocidade de narração sincronizada às ações e ao diálogo, instaura a cena, representação na qual o tempo do diálogo entre as personagens remete a um tempo real de diálogo humano.

Em contrapartida, se o narrador seleciona a frequência, a ordem e/ou a velocidade dos eventos, a simultaneidade de tempo é desconsiderada. A prolepse, por exemplo, é um recurso que antecipa um fato que ocorrerá, prenuncia o que será narrado adiante. Já a analepse consiste na intercalação de um fato em momento posterior à sua realização e estabelece um movimento retrospectivo na dinâmica temporal discursiva. A pausa ou expansão produz efeito de prolongamento do tempo, por meio do emprego de descrições, repetições e digressões, e pode levar até a imobilização total da ação. Por outro lado, a elipse representa um “salto” no tempo, omite eventos e acelera a dinâmica temporal. Já o sumário representa a redução do tempo da história, quando poucas linhas sintetizam fatos ocorridos em períodos de dias, meses, anos, décadas.

O filósofo e linguista búlgaro Tzvetan Todorov salienta, ainda, que esses recursos “relacionam-se à disposição temporal no interior de uma só história. Mas as formas mais complexas da narrativa literária contêm diversas histórias” as quais, veiculadas numa mesma narrativa, podem se ligar por encadeamento, encaixamento ou alternância. Segundo Todorov, “o encadeamento consiste simplesmente em justapor diferentes histórias: uma vez acabada a primeira, começa-se a segunda. […] O encaixamento é a inclusão de uma história no interior de uma outra”. Já a alternância “consiste em contar as duas histórias simultaneamente, interrompendo ora uma ora outra”.

* O tempo da história ou da narrativa literária

Disponível em: https://berlinda.com.br/2023/05/09/por-elenilto-damasceno-o-tempo-da-historia-ou-da-narrativa-literaria/

 

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