POR ELENILTO DAMASCENO: O nível fabular

14 de fevereiro de 2023 - 13:34
Por Elenilto Saldanha Damasceno é Professor, escritor e jornalista

Os elementos do universo ficcional de uma narrativa literária correspondem ao plano da diegese ou da história, o qual, segundo o crítico literário e professor Salvatore D’Onofrio, engloba “três níveis de análise do texto: o nível fabular (o estudo da história ficcional), atorial (as personagens) e descritivo (as categorias do tempo e do espaço)”. Em relação ao primeiro, os formalistas russos definem fábula como o conjunto de acontecimentos comunicados pelo texto narrativo, representados nas suas relações cronológicas e causais. Em outros termos, conforme o crítico literário e professor Antônio Dimas, “fábula é o que se conta, a ossatura mesma de uma narrativa, aquilo que se encadeia numa determinada sucessão temporal e que está submetida ao princípio da causalidade”.

A fábula tradicional apresenta uma estruturação de unidades mínimas que constroem uma sequência de ações organizadas de forma lógica e cronológica, a qual parte de uma situação de equilíbrio, passa por um desequilíbrio e estabelece um reequilíbrio. São cinco essas unidades mínimas, as quais se relacionam às unidades da sequência narrativa definidas pelo crítico literário e professor francês Paul Larivaille em seu esquema quinário: 1) a situação inicial é o ponto original de equilíbrio no qual se caracterizam o tempo, o espaço, as condições para a realização das ações e se apresentam as personagens; 2) a perturbação é o ponto de desequilíbrio, ao apresentar uma experiência inesperada e modificadora da situação inicial; 3) a transformação revela a consequência ou o resultado da perturbação; 4) a resolução compreende a ocorrência de um fato também com força modificadora, o qual traz a solução para a perturbação e encaminha para o final da sequência; 5) a situação final é o ponto instaurado de reequilíbrio, ou o novo ponto inicial de equilíbrio, visto que também pode ser a situação inicial de uma nova sequência.

O crítico literário, escritor, filósofo e sociólogo francês Roland Barthes amplia a compreensão sobre a estruturação do nível fabular. De acordo com Barthes, cada uma das unidades mínimas propostas no esquema quinário corresponde a um núcleo. Os núcleos constituem a armadura lógico-causal e os momentos em que a narrativa sofre um impacto ou corre um risco, a partir dos quais ela apresenta uma mudança e segue adiante, ou termina. Os núcleos são essenciais, e a remoção de algum deles pode trazer prejuízo ao desenvolvimento da narrativa. Porém, é importante salientar a existência de narrativas modernas que desconsideram esse padrão de organização de sequência de ações e núcleos.

Barthes explicita ainda que, entre os núcleos, se encontram as catálises, as ações que preenchem as partes intermediárias da trama. As catálises não são essenciais. Se removidas, não prejudicam a estrutura da narrativa. Assim, juntos, núcleos e catálises constituem a enunciação narrativa.

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