POR ISABELLA BELLI: Apropriação política da Canarinho revoltava o criador da camisa: “acho que ela foi empregada de maneira safada”

9 de janeiro de 2023 - 16:03
Por Isabella Belli

Durante a manifestação de bolsonaristas radicais no domingo (8), em Brasília, foi possível ver inúmeras pessoas vestindo a camisa da seleção brasileira de futebol. Aliás, o uso da famosa amarelinha tornou-se comum por este grupo, tanto que na Copa do Mundo do Catar, muitos torcedores pelo Brasil demonstraram receio em utilizar o uniforme para não serem confundidos com bolsonaristas.

Nesta segunda-feira (9), porém, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) se pronunciou sobre a utilização da camisa oficial da seleção por parte deste grupo ideológico e, principalmente, durante os atos de vandalismo.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A nota oficial publicada afirma que “A CBF repudia veementemente que a nossa camisa seja usada em atos antidemocráticos e de vandalismo. A camisa da seleção brasileira é um símbolo da alegria do nosso povo. É para torcer, vibrar e amar o país. A CBF é uma entidade apartidária e democrática. Estimulamos que a camisa seja usada para unir e não para separar os brasileiros.”

Apesar do comunicado feito por meio do Twitter, muitas pessoas, em resposta ao twitte, demonstraram insatisfação com a manifestação da CBF. O usuário @luscas, por exemplo, twittou: “tava sem internet nos últimos anos amor?” Outra usuária respondeu: “parabéns por fazer o mínimo, agora que o estrago já não tem mais volta.” O @matheuzera decidiu aproveitar a oportunidade para unir política e futebol em uma só resposta: “Não dá mais, infelizmente. É hora de abandonar a camisa verde e amarela e voltar a jogar de branco. Aproveitem e anunciem isso junto com o técnico estrangeiro, resolvido.”

História da Canarinho

A ideia da Camisa Canarinho veio de um gaúcho de 19 anos, em 1950. Aldyr Garcia Schlee participou de um concurso lançado para escolher o novo uniforme da seleção após a derrota da Copa do Mundo de 1950 com a camisa branca. Schlee escreveu: “camisa amarelo-ouro com frisos verdes nas golas e punhos, calção azul-cobalto com uma listra branca ao lado e meias brancas com listras verdes e amarelas.”

Schlee nasceu na cidade de Jaguarão, em 1934 e faleceu aos 83 anos, em Pelotas. Tornou-se escritor, desenhista, tradutor e professor universitário. O ano de sua morte, 2018, foi conhecido também como o ano em que Jair Bolsonaro venceu as eleições para a presidência da república com 55,13%.

Coincidência ou não, Schlee faleceu no Dia da Proclamação da República, o que significa que chegou a ver o uso da camisa que ele criou para ser vestida por jogadores de futebol e torcedores, por bolsonaristas.

Ao site uai.com.br, cinco meses antes de morrer, ele falou sobre a apropriação política da amarelinha: “A camiseta hoje representa a corrupção neste país, representa o golpismo neste país. O distintivo que ela leva, que felizmente não fui eu que criei, identifica um órgão que responde pelo futebol no Brasil e é o mais corrupto. A camiseta em si se tornou símbolo do golpismo neste país. Foi ostentando a camiseta que multidões foram às ruas apelando pela queda da presidente Dilma Rousseff, levando ao desastre do ponto de vista político, com a substituição da presidente, legitimamente eleita, por um grupo de ladrões que estão no poder. Aquilo foi resultado do golpe congressual, o golpe que se deu dentro do Congresso para esse grupo de gatunos, ladrões se manter no poder, graças ao jogo político que eles fazem, cedendo cargos, comprando cargos. Apesar de toda a onda de moralismo barato da pior espécie que se desenvolveu no Brasil, essas camisetas verde e amarelas não estão reaparecendo para a derrubada do bando de ladrões que aí está. Esse moralismo serviu pra sustentar, alimentar e definir o golpe, em nome de uma camiseta que eu detesto. Nesse sentido, não tenho nada a ver com ela, não quero ter nada a ver com ela, e acho que ela foi empregada de maneira safada.  A camiseta agora, como símbolo nacional, parece que é inabalável. Isso é uma coisa curiosa. Está mais fácil mudar o governo, mudar até o regime do que mudar a camiseta, é uma coisa impressionante.”

 

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