POR ELENILTO DAMASCENO: Literatura: da oralidade à escrita

8 de novembro de 2022 - 08:57
Por Elenilto Saldanha Damasceno - Professor, escritor e jornalista

A capacidade de pensar, falar e expressar ideias e sentimentos distingue a criatura humana das demais. O uso da fala, o dom da oralidade, é fundamento que dá origem à Literatura, cujo surgimento, de acordo com o escritor e professor uruguaio Jesus Aldo Sosa Prieto, “provém da necessidade natural que o homem sente de expressar seus pensamentos por meio de imagens, emblemas, ou símbolos”.

O crítico literário e escritor estadunidense John Albert Mancy relaciona a infância do indivíduo, a infância da humanidade e a infância da Literatura. Salienta que, assim como a humanidade, a criança “ouviu antes de ler e falou antes de escrever”. Confome Mancy, a origem da Literatura também antecede o aparecimento da escrita, “corresponde às eras em que o homem intercomunicava o pensamento por meio de palavra falada apenas”, à época na qual os seres humanos ainda não escreviam. Portanto, houve uma Literatura anterior à escrita, pois pensamentos, enredos e narrativas orais “foram criados muito antes de serem fixos pela escrita”.

Assim, considera-se que a Literatura nasceu na oralidade, quando os seres humanos passaram a se organizar em pequenos agrupamentos, a criar e a utilizar códigos comunicativos. O caráter embrionário da escrita literária desponta já nas manifestações literárias orais que antecedem a escrita. Por meio do desenvolvimento e uso da linguagem e das tradições culturais, a Literatura nasce na oralidade e, posteriormente, chega à escrita.

Das manifestações literárias orais às escritas, muitos séculos passaram. Já existiam narrativas literárias orais, para construção e representação de realidades e sentidos através da lógica e da imaginação, desde os tempos primitivos, quando as criaturas humanas, reunidas ao redor de fogueiras, trocavam ideias e impressões através de palavras faladas, descobriam sons e ritmos, construíam e compartilhavam mitos-narrativas, cultuavam divindades.

Com a escrita, o conhecimento humano preservou-se, desenvolveu-se, evoluiu vertiginosamente. A Literatura também. Conforme o crítico literário, escritor, filósofo e sociólogo francês Roland Barthes, “inumeráveis são as narrativas do mundo. Há em primeiro lugar uma variedade prodigiosa de gêneros […]: a narrativa pode ser sustentada pela linguagem articulada, oral ou escrita, pela imagem, fixa ou móvel, pelo gesto ou pela mistura ordenada de todas estas substâncias; está presente no mito, na lenda, na fábula, no conto, na novela, na epopeia, na história, na tragédia, no drama, na comédia, na pantomima, na pintura, no vitral, no cinema, nas histórias em quadrinhos, na conversação. Além disso, sob estas formas quase infinitas, a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades; a narrativa começa com a própria história da humanidade; não há, não há em parte alguma povo algum sem narrativa” e sem Literatura.

 

Notícia anterior
Próxima notícia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Escute a rádio ao vivo