Quem nunca se viu diante de uma pergunta desafiadora?
Pois bem! Meu dia chegou e por mais que eu tenha lido sobre oTranstorno do Espectro Autista (TEA) e buscado incansavelmente compreender a sua dimensão, confesso que fiquei engasgada e procurando por palavras certas para conseguir responder à Isadora.
Falar sobre o Autismo é algo complexo, porque muitas pessoas não têm o real entendimento do que seja. E como o autista não traz características “aparentes”, é julgado como malcriado.
Tanto que muitas vezes ouvi:
“Nem parece que ela tem Autismo!”. Ou ainda: “Ela parece uma criança normal!”
Minha gente: ninguém É autista. A criança nasce com um Transtorno chamado Autismo. A Isadora NÃO TEM Autismo. A Isadora é a Isadora (e ponto final).
O peculiar sobre ela é que nasceu com o Transtorno do Espectro Autista e uma síndrome rara.
(…)
Como abordar o assunto com crianças?
Se para um adulto e toda a sua capacidade de compreensão já é um dilema, com os pequenos se torna um desafio daqueles…
Usar uma estratégia lúdica ou relacionar com algumas dificuldades apresentadas pela criança, pode ser um facilitador nesse momento.
Como eu respondi, então…
Enquanto “brincávamos de desenhar”, fui usando os próprios lápis de cor para dar as explicações que ela pedia.
Em sua mesa de desenho, Isa tem vários lápis de cor com tamanhos diferentes. Uns, inclusive, da mesma tonalidade.
Comecei com estes. Achei mais fácil: disse à ela que, embora tivessem a mesma cor, eles eram de tamanhos diferentes, mas ainda assim continuavam sendo os lápis dela.
Usei o exemplo do tamanho para compará-la à irmã mais velha. E Isa, inteligentemente, concluiu: “Duas filhas, uma grande e uma pequena, mas tu ama as duas igual!”
“SIM!”, respondi.
Continuei com os lápis da mesma cor e expliquei que uns precisavam ser apontados, os outros era só organizar de novo no lugar…
Ela compreendeu que apontar os lápis exigiu mais esforço do que simplesmente guardá-los no pote.
Eu fiz a observação de que o mesmo acontece com ela: Às vezes ela precisa fazer algumas consultas médicas de rotina para ficar bem e poder “se organizar em seu lugar”.
Até aí tudo tranquilo… Os olhinhos puxados foram ficando mais curiosos e me pediu para compará-la aos lápis coloridos.
Sugeri que ela mesma fizesse a comparação e para a minha surpresa tive a melhor definição do Transtorno do Espectro Autista (TEA) da minha vida…
Ela me disse:
“Mãe, cada lápis tem a sua cor e o seu tamanho. Uns tem a pontinha quebrada. Outros não. Mas todos são lápis de cor. Eu gosto mais do roxo e do rosa. O pai gosta do azul e tu gosta do amarelo. Por isso não podia existir só uma cor. Tem que ser assim mesmo, colorido e diferente, para cada pessoa gostar da cor que ela quiser. Acho que por isso que eu ‘sou autista’. Daí muita gente gosta de mim. Porque eu sou diferente, ‘que nem meus lápis de cor’!”
Enfim, a resposta estava com ela o tempo todo!
Essa capacidade de enxergar além das aparências é o que me deixa mais apaixonada.
Isa é extremamente inteligente, autêntica e de personalidade forte. Ou, como acabei de descobrir: o colorido da minha vida!
Da série: Uma mãe, que sou eu, mas poderia ser você!