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POR ELENILTO DAMASCENO: O fim de uma guerra

1 de agosto de 2022 - 11:07
Por Elenilto Saldanha Damasceno - Professor, escritor e jornalista

Este artigo conclui a série* sobre duas grandes protagonistas de “O Continente”, primeira parte da trilogia “O tempo e o vento”, de Érico Veríssimo. Neste texto final, o conflito entre as personagens Bibiana e Luzia é observado a partir de outra personagem, Carl Winter, médico alemão que migrou para o Sul do Brasil como refugiado político e por desilusão amorosa.

Dr. Winter testemunha as crises internas da família Terra Cambará e apresenta uma aguda análise psicológica de seus membros. Principalmente, acompanha a guerra de egos travada entre Bibiana Terra Cambará e Luzia Silva Cambará, sogra e nora, pela posse do Sobrado e pelo controle dos sentimentos de Bolívar (filho e marido) e Licurgo (neto e filho).

O médico observa Luzia como uma personalidade complexa, extremamente inteligente, mas doentia. A jovem senhora do Sobrado exerce intenso fascínio sobre os homens de Santa Fé e usa seu poder de sedução com tirania, para provocar humilhações e sofrimentos. Ela também provoca excitação sexual em Carl Winter, mas não a ponto de o enfeitiçar, uma vez que ele percebe o desequilíbrio psicológico e a neurose maníaca mórbida autodestrutiva de Luzia, refletidos em seu desprezo pela vida e pelas pessoas, os quais, por somatização, originam um tumor estomacal fatal.

Em contraponto, considera Bibiana uma mulher forte, objetiva, obstinada e prática. Nas interessantes conversas entre ambos, se estabelece uma relação de muita empatia e cumplicidade. Torna-se amigo e conselheiro da matriarca, sua mais apreciada interlocutora. Sem considerações maniqueístas, haja vista reconhecer a complexidade das personalidades humanas, o médico nutre uma simpática parcialidade a favor de Bibiana no duelo com Luzia, embora procure manter certa posição de neutralidade, sem empenhar-se na conciliação, pois sente verdadeiro prazer na observação dos atritos entre as duas mulheres, os quais dão cor e tempero a seus dias na pacata Santa Fé. Admira a senhora dona Bibiana por sua autenticidade, inteligência e perseverança e a considera a personificação dos melhores valores da gente gaúcha, sem a romantização ou mitificação idealizadora comum às construções identitárias coletivas simbólicas.

Luzia morre, Bibiana vence. É o fim de uma guerra. O tempo e o vento passam, e o encantamento inicial de Dr. Winter pelo universo sul-rio-grandense transforma-se em acomodação e monotonia. Ele assimila os costumes locais, abandona hábitos particulares, desinteressa-se pelas coisas do mundo, torna-se um médico ultrapassado. Adquire hábito de tomar chimarrão e, também, de beber cachaça. O alcoolismo degrada seu caráter. Prevalece a força homogênea do comportamento coletivo sobre a singularidade autêntica da personalidade individual, e Carl torna-se apenas mais um entre os habitantes de Santa Fé.

* O vendaval Luzia, de “O tempo e o vento”

Disponível em: https://berlinda.com.br/2022/07/04/por-elenilto-damasceno-o-vendaval-luzia-de-o-tempo-e-o-vento/

* A força telúrica de Bibiana

Disponível em: https://berlinda.com.br/2022/07/18/por-elenilto-saldanha-damasceno-a-forca-telurica-de-bibiana/

 

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