Conheça Marlow, Tala, Millie, Lexi, Kyp e Asher: os seis “cachorros-detetives” que, num estudo feito por um centro de pesquisa canina e duas universidades britânicas, conseguiram detectar o vírus da Covid-19 em centenas de amostras com mais de 90% de precisão. Além dos cachorros, o estudo também testou a capacidade de sensores detectarem o vírus.
A pesquisa ainda não está revisada por outros cientistas nem publicada em revista, mas foi divulgada na sexta-feira (21) e já está disponível on-line.
Os resultados sugeriram que pessoas infectadas com o coronavírus, mesmo sem sintomas ou com sintomas leves, têm um cheiro distinto, que pode ser identificado por cachorros treinados e por sensores com alto grau de precisão.
Os cachorros foram capazes de detectar odores tanto em pessoas sem sintomas quanto naquelas com duas cepas diferentes do vírus, e com cargas virais altas e baixas.
Para coletar os odores de cada pessoa, amostras foram coletadas a partir do hálito dos participantes com a ajuda de uma máscara facial descartável após 3 horas de uso. Já os odores da pele foram coletados com ajuda de meias de nylon ou camisetas de materiais naturais e sintéticos que foram usadas por 12 horas. Cada amostra dos pacientes foi embalada individualmente e armazenada congelada na temperatura de -20°C até o uso na pesquisa.
Uma das autoras da pesquisa, a cientista Claire Guest, é diretora de um centro de pesquisa, a Medical Detection Dogs, que já investigava como cachorros podem ajudar no diagnóstico de outras doenças, como câncer e diabetes.
“Esses resultados fantásticos são mais uma evidência de que os cães são um dos biossensores mais confiáveis para detectar o odor de doenças humanas. Nosso estudo robusto mostra o enorme potencial dos cães para ajudar na luta contra a Covid-19″, afirmou Guest em um comunicado à imprensa.
O cãozinho Asher, da raça cocker spaniel, foi um dos cachorros treinados para detectar a Covid-19 em estudo no Reino Unido. — Foto: Neil Pollock/MDD
A cientista liderou o estudo junto com Sarah Dewhirst, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM, na sigla em inglês). A pesquisa teve a participação de dezenas de outros cientistas.
Segundo as especialistas, o estudo é o primeiro a avaliar se cães treinados podem distinguir entre o odor de pessoas infectadas com o coronavírus e o daquelas não infectadas, com um número suficientemente alto de cães e de amostras.
“Saber que podemos aproveitar o incrível poder do nariz de um cachorro para detectar a Covid-19 de forma rápida e não invasiva nos dá esperança de um retorno a um estilo de vida mais normal por meio de viagens mais seguras e acesso a locais públicos, para que possamos novamente socializar com família e amigos”, completou Guest.
A cachorrinha Lexi, da raça labrador, foi treinada para detectar a Covid-19 em um estudo no Reino Unido. — Foto: Neil Pollock/MDD
Uso em aeroportos
Um modelo matemático que acompanha o estudo destaca justamente o potencial de cachorros serem usados em aeroportos: dois cães poderiam rastrear 300 passageiros de avião em cerca de 30 minutos. Dessa forma, apenas as pessoas identificadas como positivas pelos cachorros necessitariam de um teste do tipo PCR, considerado “padrão ouro” de diagnóstico da Covid.
A estimativa das cientistas é que o rastreio pelos cachorros e o uso de um teste PCR confirmatório detecte até 91% dos casos e evite 2,2 vezes mais a transmissão da Covid-19 do que isolar apenas pessoas com sintomas.