É impressionante como nos escandalizamos com um beijo gay mas não com milhões de mortes, ou como não conseguimos conviver com pessoas de outras igrejas ou religiões mas convivemos com a desigualdade social. A Campanha da Fraternidade Ecumênica nos propõe enxergar para além, nos encorajar para restauração, para a denúncia das injustiças, para fazermos algo de concreto em vista de uma convivência mais fraterna e uma sociedade mais justa.
Linda essa proposta, ainda mais vinda de diferentes Igrejas, o que já é um belo exemplo de superação de preconceitos e diferenças. Obviamente que desacomodar não é fácil, sempre lidamos com resistências internas e externas, tanto no âmbito individual como no coletivo e institucional.
Mas existem métodos, caminhos possíveis, eu particularmente sou entusiasta da Justiça restaurativa e da Escola do Perdão da Reconciliação. A americana Kay Pranis, criadora dos círculos de paz, especialista em justiça restaurativa, entre outras coisas, nos propõe compreender o espiral do conflito, como ele se desenvolve, para podermos preveni-lo ou superá-lo.
Os conflitos sempre existirão, precisamos melhor lidar com eles, as violências, os preconceitos, o ódio é que devem cessar. Os jovens negros são exterminados nas periferias, a população LGBTQI+ sofre com o ódio, o preconceito e a violência, cresce o feminicídio, precisamos urgente de políticas públicas que previnam e enfrentem a violência, que o próprio estado é gerador.
Além disso, ainda lidamos com uma pandemia, com imunização a conta gotas, sem auxílio emergencial e um plano para tirar o Brasil desta realidade. O que nos alegra é ver as inúmeras iniciativas da sociedade civil, criadas desde o início da pandemia, para levar alimentos e outras ajudas, pois a fome não espera.
A Campanha é coordenada pelo CONIC, começa na quarta-feira de cinzas, podemos acessar seu conteúdo nas redes. Nós do CEPA estamos realizando um ciclo de lives, com os temas propostos e convidados de diferentes tradições, pesquisas e experiências. Vamos fazendo nossa parte para que o “novo normal” seja uma oportunidade de mudança, mais que uma consequência pandêmica.
Ismael Mendonça
Articulador do Centro de Espiritualidade Pe. Arturo
(CEPA)